Por que esse fenômeno mexicano atravessa gerações até hoje no Brasil?
Antes de mais nada, se existe um programa que pode passar a hora que for e sempre haverá alguém assistindo, esse programa é Chaves. O órfão que vive na Vila do Senhor Barriga traz uma mistura de inocência e inteligência que cativa pessoas de todas as classes e idades.
Mas, como é possível uma série mexicana, gravada mais de 50 anos atrás, pode ser popular e atual até hoje? Confira abaixo 5 pontos que podem explicar os motivos desse amor atravessar gerações. Os critérios de escolha que utilizamos foram análises de depoimentos dos produtores do SBT, opiniões da crítica especializada e também trazendo um toque de opinião dos nossos redatores, que acompanharam por 30 anos a exibição do programa no Brasil.
1 – A importância da TV para o brasileiro
Para falarmos de Chaves, primeiramente precisamos entender a relação do brasileiro com a TV. A televisão chegou ao Brasil no final de 1950 e, desde então, sempre foi um grande amor do brasileiro. Antes mesmo de se tornar popular, assistir TV era, sem dúvida, um evento no bairro, que juntava vizinhos e amigos em uma mesma casa para acompanhar algum programa.
Posteriormente, se tornou um programa familiar, seja para assistir o jornal, a novela ou a programação de domingo juntos. Poucos anos atrás, passou a ser um eletrodoméstico de uso individual. Cada membro da família tendo uma televisão própria em seu quarto para assistir a sua programação preferida.
Atualmente, vemos cada vez menos interesse das pessoas pela televisão. A internet e os streamings tem conseguido suprir a demanda de conteúdos cada vez mais personalizados para o público (e com menos interrupções).
2 – Chaves: um sucesso que nascia no México
El Chavo del Ocho, nome original da série lá no México, começou como um grupo de esquetes. Foram exibidas em um programa humorístico do início dos anos 70 chamado Chespirito, apelido do apresentador Roberto Gómez Bolaños. Ele é o criador e intérprete do personagem Chaves e de muitos outros, como Chapolin Colorado e Doutor Chapatin.
A recepção do público foi muito positiva, levando Roberto Bolaños a criar um sitcom. Ambientado em uma pequena vila com personagens bem definidos, cada um trazendo humor de alguma maneira diferente em situações cotidianas. O sucesso da série foi tanto que, poucos anos depois, começou a se expandir e ser retransmitida em vários outros países da América Latina. No total, foram gravados 312 episódios de Chaves e o último foi exibido em 07/01/1980. Desde então, seguiu sendo reprisado em diversos canais latinos e com bons índices de audiência até hoje.
3 – O acerto do SBT em trazer Chaves para o Brasil
Em agosto de 1984, Silvio Santos fechou uma parceria com a Televisa, canal mexicano detentor de direitos do programa Chespirito e todas as variantes dele. Nesse acordo, diversas novelas e programas em fitas vieram do México para serem reproduzidas aqui no Brasil e, entre elas, estava Chaves. Os produtores do SBT viram o potencial humorístico daquela série de comédia de baixo orçamento, com cenários cheios de elementos feitos de isopor e papelão.
Contudo, a verdadeira ideia de gênio foi investir em uma dublagem de qualidade, adaptando alguns termos para o contexto brasileiro, aproximando da fala brasileira. Isso inclui diversos bordões icônicos dos personagens, repetidos em praticamente todos os episódios. Conforme o esperado, o público rapidamente se identificou com a série, gerando altos índices de audiência. Assim, se pavimentava o início da longeva história de Chaves por aqui.
4 – Longevidade de Chaves por gerações
Aliás, o SBT soube utilizar bem essa mina de ouro nas mãos. Só para ilustrar melhor, durante mais de 35 anos, qualquer oportunidade ou espaço na grade de programação do canal, uma reprise do programa era transmitida. E o público assistia! Decerto, a geração mais marcada pelo seriado foi a dos anos 90. Essas crianças voltavam da escola e assistiam todos os dias episódios de Chaves no fim da tarde. E assim essa e outras criações de Bolaños, como o seriado do Chapolin Colorado, foram cativando pessoas das décadas de 80, 90 e 2000.
Ademais, a partir da metade dos anos 2000, foram lançados novos produtos da franquia. A série animada do Chaves, jogos de videogame e produtos licenciados oficiais são exemplos disso. As novas obras acabaram fidelizando mais uma nova geração de espectadores infantis em torno dos personagens. Já em 2019, a Televisa trouxe ao Brasil a peça de teatro “Chaves: um tributo musical”. Não precisamos dizer que foi um verdadeiro sucesso de bilheteria, com sessões lotadas e ingressos completamente esgotados com antecedência.
Inclusive, até o dia 30 de março de 2024, estará disponível para visitação no Museu de Imagem e Som (MIS) de São Paulo a exposição oficial do Chaves. Lá você encontrará cenários idênticos ao do seriado, informações e curiosidades sobre as gravações e muito mais.
5 – Eternização da obra de Chespirito
Em julho de 2020, suas séries saíram do ar por um problema judicial entre a Televisa e a família do autor. Sempre houve divergência entre os valores arrecadados pela Televisa com os produtos criados por Bolaños e o repasse desse valor. Os familiares acusam a emissora de ter ficado injustamente com uma parte muito maior do que foi acordado, tendo consequentemente enganado o genial Roberto Bolaños. Praticamente 50 anos depois, Chaves saía do ar para, até agora, não ter voltado oficialmente. Entretanto, ainda é possível encontrar os episódios dublados em sites e no YouTube.
Mas, uma notícia excelente veio à mídia recentemente! O SBT anunciou que vai trazer para dublagem e exibição alguns dos filmes dirigidos e estrelados por Roberto Bolaños. Entre eles, o clássico El Chanfle, que ficou super conhecido aqui como “o filme do Pelé” no episódio do cinema de Chaves. Será a primeira vez que essas obras serão exibidas de forma localizada oficialmente em nosso país.
Resumo
Após contarmos essa história de sucesso, podemos concluir que o sucesso de Chaves no Brasil foi a junção de diversos fatores. Primeiramente, a genialidade humorística de Chespirito ao trazer piadas simples, beirando o inocente, porém de uma inteligência elevadíssima. Isso tornou a série leve e não fazendo o público enjoar facilmente da fórmula.
O segundo fator destacado vai para a construção dos personagens e a ótima atuação dos atores da série. Cada personagem tem seu papel na vila, seus trejeitos e bordões clássicos, e adicionam camadas diferentes de humor em situações cotidianas. É muito fácil assistir Chaves e relacionar um vizinho seu a um daqueles personagens. Um terceiro fator, que já havíamos consideramos crucial, foi a excelente dublagem brasileira e a adaptação das falas para o contexto brasileiro.
A repetição de exibições por mais de 35 anos criaram 3 ou 4 gerações de fãs que cresceram assistindo ao seriado. Todos eles nutrem um carinho muito especial pela série até hoje. E aí, você também ficou animado com essa notícia dos filmes de Bolaños virem oficialmente para o Brasil? Siga acessando o nosso site para não perder os próximos artigos que vão sair por aqui.
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