Entenda o conceito de Preconceito Linguístico com exemplos e suas 5 principais causas

A definição de preconceito é conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos necessários sobre um determinado assunto. Existem muitas formas de preconceito, mas entre elas, vamos destacar o linguístico que consiste em julgar o modo que uma pessoa se comunica ou a língua falada por ela.

O linguista e escritor Marcos Bagno publicou em 1999 o livro Preconceito Linguístico – Coleção O que É, Como Se Faz, onde explica como surgiu o preconceito linguístico. A partir dessa obra, o Artcetera traz para esse artigo as 5 principais causas, alguns exemplos e como combater esse tipo de preconceito. Confira a seguir:

As 5 principais causas do Preconceito Linguístico

Preconceito Linguístico - Marcos Bagno, linguista
Preconceito Linguístico – Marcos Bagno, linguista

Segundo Bagno, o preconceito linguístico deriva da construção de um padrão imposto por uma elite econômica e intelectual que considera como erro e reprovável tudo que seja diferente desse modelo. Além disso, outras formas de preconceitos acarretam no preconceito linguístico. São eles:

  • Preconceito socioeconômico: Entre todas as causas, talvez seja a mais comum e a que traga consequências mais graves. Isso se deve ao fato de membros das classes mais pobres, pelo acesso limitado à educação e cultura, geralmente, dominarem apenas as variedades linguísticas mais informais. Assim, são excluídos principalmente dos melhores postos no mercado profissional, e cria-se a chamada ciclicidade da pobreza: o pai pobre e sem acesso à escola de qualidade dificilmente oferecerá ao filho oportunidades (pela falta de condição), e este, provavelmente, terá o destino daquele.
  • Preconceito regional: Junto ao socioeconômico, é uma das principais causas do preconceito linguístico. São comuns casos de indivíduos que ocupam as regiões mais ricas do país manifestarem algum tipo de aversão ao sotaque ou aos regionalismos típicos de áreas mais pobres.
  • Preconceito cultural: No Brasil, há uma forte aversão por parte da elite intelectual à cultura de massa e às variedades linguísticas por ela usadas. Isso fica evidente, por exemplo, na música. Por muito tempo, o sertanejo e o rap foram segregados no cenário cultural por serem oriundos de classes menos favorecidas (muitas vezes, sem acesso à educação formal) e que se utilizam de uma linguagem bastante informal (a fala do “caipira” ou de um membro de uma comunidade em um grande centro, por exemplo). É muito importante destacar que ambos são estilos musicais extremamente ricos e são parte importantíssima da identidade cultural de milhões de pessoas.
  • Racismo: Infelizmente, no Brasil, elementos da cultura negra ainda são segregados por uma parcela da população. Isso se reflete na linguagem, por exemplo, no significado de palavras de origem africana, como “macumba”, que, no Brasil, é ligada a satanismo ou feitiçaria, mas, na verdade, é um instrumento de percussão usado em cerimônias religiosas de origem africana.
  • Homofobia: É comum que gírias ou expressões sejam rotuladas como específicas da comunidade LGBT e, consequentemente, repudiadas por aqueles que possuem aversão a esse grupo social. Basta se lembrar da polêmica em torno de uma questão da prova do Enem de 2018 que versava sobre o pajubá (dialeto criado pela comunidade LGBT).

Exemplos de preconceito linguístico

Preconceito Linguístico - Preconceito Regional
Preconceito Linguístico – Preconceito Regional

Ainda dentro da obra de Marcos Bagno, o autor dá início ao livro com o capítulo “A mitologia do preconceito linguístico”. Nele, o linguista exemplifica algumas falas e as denomina como mitos, explicando sua origem pautada nesse tipo de preconceito.

  • Mito n° 1 “Brasileiro não sabe português” / “Só em Portugal se fala bem português”: apresenta as diferenças entre o português falado no Brasil e em Portugal, onde a língua portuguesa é considerada superior e mais correta.
  • Mito n° 2 “Português é muito difícil”: baseado em argumentos sobre a gramática normativa da língua portuguesa, ensinada em Portugal, e suas diferenças entre o falar e escrever dos brasileiros.
  • Mito n° 3 “As pessoas sem instrução falam tudo errado”: preconceito pelas pessoas que têm um baixo nível de escolaridade. Bagno defende essas variantes da língua e analisa o preconceito linguístico e social gerado pela diferença da língua falada e da norma padrão.
  • Mito n° 4 “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”: mito criado em torno desse estado, considerado o local onde se fala o português mais correto, uma vez que está intimamente relacionado com o português de Portugal.
  • Mito n° 5 “O certo é falar assim porque se escreve assim”: aqui o autor apresenta diferenças entre as diversas variantes no Brasil e a utilização da linguagem formal (culta) e informal (coloquial).
  • Mito n° 8 É preciso saber gramática para falar e escrever bem”: aborda sobre o fenômeno da variação linguística e a subordinação da língua a norma culta. Para ele, a gramática normativa passou a ser um instrumento de poder e de controle.
  • Mito n° 7 “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”: decorrente das desigualdades sociais e das diferenças das variações em determinadas classes sociais. Assim, as variedades linguísticas que não são padrão da língua são consideradas inferiores.

Como combater o preconceito linguístico

Preconceito Linguístico - Adequação Linguística
Preconceito Linguístico – Adequação Linguística

Para combater o preconceito linguístico, o conhecimento deve ser o primeiro passo em direção a uma sociedade mais justa e inclusiva. Estimular o ensino da língua portuguesa a partir da perspectiva de diversidade linguística deve ser o ponto de partida de educadores para incentivar a aceitação e respeito às diferentes formas de falar o idioma.

O reforço à ideia de adaptação linguística deve ser inserido pelos educadores, a fim de mostrar que existem línguas indicadas para cada situação do cotidiano, como entrevista de emprego e conversa com amigos. Adequação linguística é o princípio segundo o qual não se fala mais em “certo” ou “errado” na avaliação de uma determinada variedade linguística. Se diz se a variedade em questão é adequada ou não à situação comunicativa (contexto) em que ela se manifesta. O ideal é estimular a linguagem como identidade cultural do indivíduo, em lugar de colocá-la como algo a ser consertado ou ajustado. Toda língua se relaciona com o sujeito, sua história e diferenças.


Esse foi o nosso artigo sobre preconceito linguístico. Se você se interessa por questões culturais, não deixe de acompanhar o Artcetera. Publicamos diariamente conteúdo sobre arte, entretenimento, games, cinema e muito mais!

Você pode se interessar também:

Entenda qual o idioma oficial do Brasil e sua oficialização

Os 10 Livros Grátis mais baixados em Formato eBook

Capital Cultural: O que é o conceito criado por Bourdieu

As 100 melhores Frases sobre Livros

O que é Indústria Cultural? Veja características e exemplos

Museus em SP: 3 dicas de museus gratuitos em São Paulo

Categorizado em: