Conversamos com Fabiana Gibim, editora da Sobinfluencia. Além de super inteligente, nossa entrevistada foi super generosa ao responder as perguntas, trazendo pontos importantes para pensarmos o que é livro, literatura e conhecimento. 

Nós falamos sobre a vida, histórias surreais, filmes bons pra ver, o que são livros, como funciona a Sobinfluencia e quais são os movimentos que atuam como norteadores das obras escolhidas pela editora. Bora lá?

Essa entrevista foi feita de maneira online, no dia 28 de julho de 2022, conduzida por essa que vos fala (Ornella) e pelo nosso designer Artur. Confiram:

Ornella: E aí, Fabiana! Seja bem vinda ao nosso espaço online, tudo bem com você?

Artur: É um prazer recebê-la e poder trocar um papo.

Fabiana: E aí, pessoal! Por aqui tudo bem, obrigada pelo convite!

Artur: Vou começar com uma pergunta objetiva. Por que livros?

Fabiana: Meu deus! Que pergunta capciosa hahaha. Bom, acho que o livro é a última coisa em todo um processo. Esse processo é de entender que o livro é um objeto, inclusive nós conversamos isso com outras editoras, sobre qual seria a potência do livro, mais do que ser perigoso, porque passa pela dificuldade de publicar livros no Brasil.

E sempre foi difícil publicar livros aqui, não é algo novo. Ainda mais livros políticos e de filosofia radical, mas existe uma peculiaridade das editoras independentes que estão publicando, principalmente porque o livro em si é só um mecanismo. O livro é um rastro de algo que acontece para além dele mesmo e isso é muito importante.

O livro é um meio, um trânsito. O que importa é aquela ideia que é capturável, o livro é uma fresta dessa ideia que pode ser capturada. Essas ideias correm para além dos livros, panfletos e posters. 

Ornella: Vocês têm um editorial bem específico, como você disse, de política e filosofia radical. Isso não é algo muito conhecido no Brasil. Aí fiquei com a curiosidade de saber como foi seu caminho até chegar nessas ideias, qual a sua relação com a leitura e com os livros, como você se interessou por isso até chegar na Sobinfluencia. 

Fabiana: A Sobinfluencia é composta por três pessoas, eu e mais dois. Nós viemos de lugares muito parecidos. Isso é algo que nós conversamos nos almoços e corredores aqui: “como será que as pessoas chegam na política radical? como elas chegam na filosofia esquisita?” hahaha.

No nosso caso, viemos do movimento punk ali na adolescência, então era natural a cultura dos zines, de ser criança e já estar envolvido em montar shows, debates com assuntos considerados para pessoas mais velhas, enfim, uma ideia de infantilização das coisas que, em um meio como o punk, ocorria todo um processo de amadurecimento dessas ideias, um outro vínculo com a realidade.

Então, eu acho que isso é uma coisa muito importante para nós, porque o que mais chama a atenção dentro da Sobinfluencia é o fato de ser muito agitativo visualmente. Existe toda uma relação com a visualidade dentro da Sobinfluencia, até pelo fato de ser uma imagem muito específica, de um lugar muito específico com influências e referências de movimentos tais quais foram o punk na nossa vida.

Falo isso no sentido que foi no punk que aprendemos a fazer poster, a fazer colagens, aprendemos a escrever zines sobre qualquer coisa, enfim, a consultar o mundo dessas formas, com essas ideias vindas de outros caminhos, mais tortuosos e menos higienizados. Acho que isso foi importante para formar essa leitura.

Agora, leitura, nesse sentido, nada tem a ver com a Sobinfluencia publicar livros e nem com livros em si, porque a gente entende essa aproximação da leitura como uma política de experimento das coisas. Toda essa potência da música, do caminhar pela cidade ou de se aproximar desses processos experimentais da vida, que são embasados em outro lugar, não é um lugar de clausura das ideias.

Muitas vezes o livro serve como uma clausura, naquela ideia bem canônica de que “eu vou consultar o livro porque existe um conhecimento ali” e, eu acho que essa ideia de leitura que trazemos é para vir destruindo essa concepção, porque você consulta o livro não para ver uma ideia que tem ali, mas sim como um caminho, como um rastro de pólvora. 

Existe um conceito do André Breton que usamos muito aqui, que é o conceito de vasos comunicantes, estarmos sempre abertos a esses vasos comunicantes. O Jazz é um deles, o punk foi um deles na nossa trajetória também. Enfim, esses experimentos de leitura do mundo que são muito além de livros e muito além da palavra.

Tem mais relação com experimentar, existe uma política do experimento que é maior do que a afinidade com a leitura, a leitura acaba sendo só mais uma dessas afinidades.

Artur: Eu sei que você não é daqui de São Paulo, você cresceu em outro estado. A maioria das pessoas que eu conheço que trabalham com editoras são do eixo Rio-SP e alguns do Sul do Brasil. Você cresceu em um contexto completamente diferente. Você sente que esse contexto impactou a forma como você trabalha e como você enxerga o mundo? Você sente que você enxerga coisas diferentes do pessoal do ateliê, por exemplo?

Fabiana: As pessoas do ateliê são muito diversas também, pessoas que vieram de lugares diferentes e de lugares comuns. Não de lugares geográficos em comum, mas tem uma certa inquietação nos seus próprios espaços. 

Cada um é diferente, mas existe esse lugar comum que criamos, essa noção comum a partir dos afetos. A criação dos afetos entre nós ajudou a criar um espaço que não é territorial, é nesse espaço que nos encontramos.

Mas realmente, eu não sou de São Paulo, eu não sou nem do Brasil, eu nasci no Paraguai. Muita coisa muda da fronteira para a metrópole, então tem sim muita influência desse espaço fronteiriço. 

Eu nasci na fronteira do Paraguai com o Brasil e não sei se todo mundo conhece como é a fronteira, mas é uma vida muito diferente de quem está na metrópole, a fronteira é um lugar ocupado e de constante sítio porque tem uma relação muito forte com o exército.

O exército é muito presente, a milícia é muito presente, então é um aspecto de violência estatal muito grande e que com certeza isso ajudou a construir uma imagem anti-Estado que existe na minha cabeça e é exercida na Sobinfluencia.

Mas não necessariamente eu coloco a geografia do meu nascimento como um argumento pra isso, principalmente porque isso vem muito mais da abertura que eu e outras pessoas vivemos uma violência delicada, uma forma muito específica de estar exposto à violência e que elabora o imaginário e aproximação com o mundo.

As pessoas aqui do ateliê também vivenciam essa delicadeza com relação à violência só que de outras formas, de outros lugares. A geografia da coisa pouco tem a ver, é algo mais afetivo do que geográfico. Mas sim, muita coisa muda do Paraguai para o estado de São Paulo haha!

Ornella: Você comentou sobre o movimento punk e os shows que frequentava. Esses eventos eram lá na fronteira do Paraguai com o Brasil ou já era em São Paulo? Ou sei lá, se era ali na região de Foz do Iguaçu ou outra cidade, onde você frequentava? Porque se for em São Paulo, dá pra ter uma noção porque existe até documentações do movimento punk desde os anos 80, mas no interior ou cidade de fronteira é bem diferente. Como era isso?

Fabiana: Eu vim pra São Paulo há três anos só, eu tenho de idade aqui em São Paulo quase que a mesma idade que a Sobinfluencia. Existe um lugar no punk muito diferente no Paraguai, no Mato Grosso do Sul e em São Paulo, são muito diferentes uns dos outros. 

Acho que uma das coisas mais importantes de ter essa relação com o punk na adolescência, é o fato de se comunicar com pessoas de todo o Brasil. Existe um trânsito muito particular que também envolve política, que é essa troca e isso é muito valioso, foi valioso para nós da Sobinfluencia.

Foi valioso para nós e para nossos amigos que viveram esse momento, agora essas pessoas cresceram e estão meio que fazendo as mesmas coisas, só que de forma diferentes. Nós achamos isso engraçado, porque a Sobinfluencia são três pessoas e nós três fazíamos zines a 15 anos atrás, aí nós crescemos e agora fazemos outros zines hahaha.

Eu sei que é diferente, outra proposta, mas vem desse lugar, sabe? E várias pessoas passaram pelo mesmo, o João e o Mateus, que são dois grandes amigos, tem uma pizzaria vegana chamada Pizza Youth e eles já cozinhavam lá atrás na verdurada e nos shows. Enfim, tem essa seiva que se mantém, é um lance de superação e conservação.

Eu vivi a maior parte da adolescência no Mato Grosso do Sul e os shows e movimentos aconteceram radicalmente diferente daqui de São Paulo. Eu vinha pra cá em alguns eventos, mas a maior parte da vida fiquei no Paraguai e no Mato Grosso do Sul e os espaços lá eram bem mais precários do que aqui, menos pessoas do que aqui, enfim, outras dinâmicas.

O Alex e o Rodrigo, que são os outros dois da Sobinfluencia, também vieram de outros lugares. O Rodrigo é de Piracicaba e o Alex é de Botucatu, eles se encontraram nesse movimento punk mais do interior, que também é diferente da capital. Inclusive tem um episódio do Balanço e Fúria com o Diego Max que se chama “Interiorano e Ambicioso” que diz muito sobre isso.

Ornella: Que legal! Eu conheci o Rodrigo e o Diego nesses rolês de interior mesmo, os dois muito gente boa. Enfim, acho que tem algumas coisas bem interessantes que você falou e que tem relação com a própria maneira de ser da Sobinfluencia. O zine tem uma ligação forte com a criação coletiva, essa coisa de conhecer pessoas do Brasil todo, algumas que vemos uma vez na vida, mas já se tornam amizades, trocamos materiais, cd, zine, enfim, a editora parece ter isso também. Gostaria que você falasse um pouco mais sobre o seu zine, se ele existe ainda, como ele era, qual era o nome e tal. Tenho amigos que fazem zine até hoje e eles dão risada de como eram no começo, que era algo mais “tosco”, menos elaborado e foi se tornando outras coisas, as ideias foram amadurecendo. Aí além do seu primeiro zine, queria saber se você teve outros e como você vê a evolução deles também! 

Fabiana: Nossa, eu tinha um zine muito tosco que chamava “Pólen” hahaha. Eu tinha outro, mas não lembro o nome agora, que fiz com um grande amigo meu, o Mateus. Nossa, eu não lembro o nome desse zine agora! Mas esse amigo Mateus tinha uma banda chamada George Romero e o zine era isso, basicamente as letras da banda hahahaha! 

Agora não vou lembrar o nome, infelizmente. Tinha esse chamado “Pólen” e tinha outro que era o meu mais querido, que inclusive estava falando sobre ele hoje porque ele tem uma relação muito forte com a Sobinfluencia, Na época das primeiras ocupações dos secundaristas, eu estava no último ano da escola e fiz parte do grêmio.

Essa ocupação era muito grande e ficou muito conhecida, enfim, foram várias escolas que foram ocupadas naquela época, isso em 2012. Aí eu fiz esse zine chamado “Como ocupar um Colégio” e, na capa desse zine, tem uma foto de um cara que foi um fotógrafo radical, um pensador, escritor, enfim, que foi uma pessoa muito importante para o movimento de 77 na Itália, que é o movimento autonomista italiano e talvez uma das influências mais fortes da Sobinfluencia.

E na época eu nem sabia disso, não fazia ideia do que era autonomismo italiano, fui descobrir isso muitos anos depois pelo meu amigo Leonardo que é editor da GLAC. Ele me apresentou o autonomismo e depois que percebi que tinha essa imagem na capa do zine. Eu acho isso bem engraçado, porque hoje em dia o autonomismo italiano é um sol, um sol negro gigante para a Sobinfluencia e na minha vida, na forma que eu vejo as relações.

Esse zine, na época, circulou muito com essa imagem e eu não tinha a mínima ideia de que teria essa relação com ele depois. Hoje, vendo em retrospecto, eu acho isso fofo porque foi uma coisa meio oracular hahaha. 

Ornella: Pois é hahaha você teve um vislumbre do futuro sem saber, muito massa isso. 

Artur: Acho que seria legal explicar em poucas palavras o que é o autonomismo italiano, pro pessoal que está lendo conhecer!

Fabiana: Bom, não começou em 1977, mas o ápice foi em 1977 do movimento, enfim, existiu esse fenômeno potentíssimo de ocupação, sabotagens, greves e também um fenômeno cultural, onde existiram vários panfletos, pequenos livros e rádios. 

Era uma erupção vulcânica super potente na história ali nos confins terceiro mundistas da Europa, que foi o autonomismo italiano, que aconteceu essa união entre operários, pessoas desempregadas, estudantes e artistas. 

É um movimento que existiu e existe até hoje, existem autonomismos brasileiros, autonomismos canadenses, autonomismos de diversos lugares que consistem em uma experimentação política radical muito forte, muito potente, enfim, tô fazendo um super resumo aqui!

Ornella: Muito que bem! hahaha Bom, uma coisa que me chamou a atenção quando eu conheci a Sobinfluencia – além das próprias publicações – foi o visual, não tem como negar que a questão visual é um dos fortes de vocês. No mercado editorial do Brasil, esse aspecto faz muito sucesso, mesmo que seja negativo. Quem não se lembra das capas da editora Martin Claret do início dos anos 2000? Emplacou, são horríveis, mas todo mundo lembra haha. E a extinta Cosac Naify que também se destacava nesse sentido, eram livros muito bonitos e as pessoas adoravam isso. Enfim, visualmente a Sobinfluencia tem esse elemento de simplicidade, mais próxima do zine, porém é perceptível o quão cuidadosos vocês são com isso. Queria saber das artes de vocês, tem várias diferentes, mas dá pra ver que segue uma linha. Quem faz essa parte das artes? É uma curadoria coletiva, vocês conversam e decidem juntos ou é uma pessoa só que faz?

Fabiana: A imagem da Sobinfluencia é a imagem do Rodrigo. Ele é o que vê, o terceiro olho do Rodrigo que trabalha nesse sentido. Nós três temos uma relação muito forte com a colagem, então sempre usamos colagens, tanto nossas quanto de outras pessoas que a gente convida. 

Por exemplo, esse último lançamento nosso que é o “Por uma Insubordinação Poética” é uma colagem de um conhecido nosso, inclusive é a nossa primeira capa de alguém de fora. 

Enfim, a colagem tem um papel fundamental para nós, mas o Rodrigo foi quem viu a Sobinfluencia de uma forma imagética e na potência daquela imagem. E essa potência das imagens é de uma forma muito múltipla, na potência aglutinadora de afetos das imagens, porque não é só criar, é também pensar de um jeito conceitual, experimental e afetivo. Isso é totalmente do Rodrigo, ele é “o cara” da imagem!

Artur: Bom, vou entrar com uma polêmica aqui. Por mais que seja arte pra capa, é também design gráfico, né? E o design gráfico não é arte, por que?

Ornella: Caraca, você mandou um “Provocações” hahaha

Fabiana: Nossa, Artur hahaha não esperava por essa. 

Artur: Mas é que eu sei que a Fabiana também faz algumas artes da Sobinfluencia! hahaha é só pra saber, poxa vida.

Fabiana: Sim hahaha as artes são sempre de nós três.

Ornella: E é legal que são artes pensadas também para outro uso, não só para a capa do livro, né? Vocês também fazem posters, camisetas, ecobags…

Fabiana: Sim, mas agora não sei responder porque design gráfico não é arte, sei lá. Nem sei o que é arte, honestamente eu tô meio empapuçada do papo de arte, é raríssimo que a gente fale ou mencione a palavra “arte” ou “artista”. 

Pessoalmente, eu me sinto completamente alheia à palavra e à imagem do que é arte e do que é artista. Acho que posso falar isso por nós três, mas agora estou falando por mim, eu acho que tem todo um atrelado de questões que envolve falar sobre arte hoje.

Eu me sinto muito mais crítica em relação a palavra arte do que à própria arte, no sentido de que não me sinto a pessoal ideal para falar sobre arte, inclusive acho muito esquisito quando chamam a gente de artistas, acho bem estranho.

Acho que essa palavra tem um peso, um peso de mercado, um peso de classe, um peso de funcionalismo social, do que um artista significa e isso não nos cabe, nem nos interessa. O “Toda Insubordinação em Arte” diz muito sobre isso, porque coloca a arte em outro lugar.

É muito mais comum que a gente fale sobre experimento do que sobre arte, falar sobre arte me parece muito prepotente, nós não somos artistas, nós somos trabalhadores.

Ornella: Concordo com você em muitas coisas, mas eu acho que há uma contradição. Eu entendo esse afastamento, porque envolve marcas próprias da arte, mas o trabalho de vocês passa pela divulgação de pensamentos do que é “ser” no mundo e isso é um pouco o que a arte faz também. Entendo o ranço, mas artista também é trabalhador, pelo menos aqueles que não são herdeiros, né? haha. Mais uma vez, eu compreendo essa “marca” que você diz, desse pensamento de que o artista seria alguém elevado, alguém com entendimento superior e não é por aí. O trabalho de vocês contribui muito para desmistificar esse lugar, aproxima as pessoas, qualquer um pode ler um livro da Sobinfluencia e entender que não há iluminação no fazer artístico, é tudo fruto de trabalho. Enfim, eu tô concordando contigo, mas ao mesmo tempo eu acho que é necessário ocupar esse espaço de “ser artista”, caso contrário sempre vai ter um babaca naquele lugar e as pessoas sempre vão achar que artista é babaca, que a maioria são herdeiros ou parte da elite. 

Fabiana: Eu concordo totalmente sobre o artista ser um trabalhador, porque ele sai de um lugar e cria outro, existe uma criação a partir de um vazio, que é um processo de trabalho, remonta um percurso que cria um outro lugar.

Em absoluto é isso, mas eu também não me importo, dizer a “arte da Sobinfluencia” ou “artistas que fazem a Sobinfluencia”, eu não me importo com isso, mas não necessariamente reclamo esse lugar, entende? Particularmente não acho que minha disputa esteja neste lugar, de ser ou não artista.

Acho que essa arte com “A” maiúsculo sempre foi dos herdeiros, dos mecenas, do pessoal de museu. Sempre foi e é isso, é um problema de classe como são todos os outros, mas existe essa outra coisa a ser feita, que é arte também, que é feita de uma forma completamente alheia aos processos de mercado. 

Aliás, alheia não, acho que é compenetrada nesse processo, compenetrada no lugar de onde ela é exercida, quais as relações e imbricações de como ela é feita. Acho que essa área, arte ou não, é a que me interessa como espaço de disputa. 

Artur: Bom, você pode não se dizer artista, mas é halterofilista? Eu sei que você pratica e conta aí se você compete, como começou isso, como é essa experiência?

Fabiana: Halterofilista é engraçado hahaha! Eu levanto peso olímpico só, faço LPO há uns 6 anos mais ou menos. Eu tenho uma relação forte com coisas que me esgotam pela força, acho que o LPO tem esse lance de trabalhar na impossibilidade, porque é impossível levantar a quantidade de peso que vai ser levantado ali hahaha.

É um desafio e é isso que me atravessa nesse tipo de exercício, eles são literalmente impossíveis, ou que exigem muito mais do que você consegue oferecer ou que imagina de si mesmo. 

Tem uma relação muito forte com a disciplina e com algo imaginário, existe esse afeto pela imaginação de coisas, o surreal se torna mais real do que o real. O LPO tem uma relação comigo nesse lugar, quando você me vê aqui, não me vê levantando 200kg e eu gosto dessa imagem. 

Gosto de me sentir disciplinada para fazer essas coisas e também é uma forma de disciplinar a minha imaginação.

Artur: Quando a revolução chegar você estará na linha de frente, preparadíssima! hahaha.

Fabiana: Pronta pra correr! hahahaha.

Ornella: Acho que esse tipo de exercício tem uma relação com a Sobinfluencia também né? Nessa questão de exercitar o imaginário de si, acho que tem bastante relação com a escrita, a leitura, enfim, achei isso muito maneiro.

Fabiana: Eu gosto de pensar nas pessoas que se colocaram à prova fisicamente por meio dos exercícios, tem um grupo chamado Dead Prez, que é um grupo de rap e hip hop, que sempre escutávamos quando éramos mais novos e ouvimos até hoje.

Enfim, é um grupo que tem uma relação forte com exercício físico, com disciplinar o corpo, tudo isso são coisas que animam a gente, a Sobinfluencia também nos anima, o Hemingway era boxeador, então sei lá, deve ter algo a ver sim hahaha.

Artur: Bem, você falou de rap, de hip hop, de punk, mas o que você escuta quando está lá levantando 300kg?

Fabiana: Quando eu treino eu escuto um Dead Prez, A Tribe Called Quest, escuto bastante rap. Falando nisso, nós temos as playlists do Balanço e Fúria! Escutem aí pessoal!

Artur: A Sobinfluencia está com campanhas de lançamentos, não é? Até sair essa entrevista provavelmente já foram lançados, mas conta um pouco pra gente sobre eles, aí colocamos o link pra quem quiser adquirir!

Fabiana: No momento estamos com três campanhas, algumas no final, então provavelmente já vai ter lançado mesmo haha, mas vamos lá! Tem o “Desejo e Revolução”, que é um livro do Guattari com o Bertetto e o Franco Bifo. 

Esse livro é uma conversa, como essa nossa aqui, em que eles  se encontraram para falar sobre a ebulição absoluta que estava acontecendo ao redor deles e como eles se sentiam sobre aquilo. É uma conversa entre três pessoas muito importantes para o autonomismo e para a filosofia radical. 

O “Por uma insubordinação poética” são panfletos desde a morte do Breton nos anos 60 até 2012 do movimento surrealista, não só o francês, mas de várias partes do mundo. Esse livro é importante hoje porque existe uma fala terrível depois da morte do Breton que é sobre o surrealismo ter morrido junto com ele. 

Isso não é verdade, esse livro e todos os grupos surrealistas estão aí para provar que não é bem assim, estão vivos, ativos e cada vez mais radicalizados. Ah, esse livro é organizado pelo Guy Girard, que é um surrealista vivo muito importante.

O outro é o “A an-arquia que vem”, do Andityas, que tem um outro livro já com a gente, que é o “Para além da biopolítica”. O “A an-arquia que vem” é um anti dicionário para revogar tudo de todas as nomenclaturas que a gente já utilizou, de forma não imaginativa da política e da filosofia radical.

É um ensaio muito querido, muito delicado e muito profundo. Quem conhece o Andityas sabe da relação dele com a palavra e a potência da palavra. Esse livro fala sobre a trajetória de um anarquismo experimental, um anarquismo iluminado pelo pós-guerra e pelos movimentos de insurgência. 

Artur: Você comentou sobre o Balanço e Fúria, conta pro pessoal o que é isso.

Fabiana: É um podcast que relaciona música e política, que é tocado pelo Rodrigo. Ele entrevista pessoas envolvidas com a imaginação radical, pessoas envolvidas com a música de diversas cadências, mas sempre a música que se relaciona de alguma forma com as fissuras do mundo, de antes, de hoje ou depois!

Ornella: Muito massa! Quando eu conheci a Sobinfluencia, vocês tinham poucos livros ainda, acho que eram 3 ou 4. Aí queria saber como funcionam as escolhas de vocês, se são textos que já conheciam, indicações, se vocês vão lendo os textos e veem que tem relação e decidem publicar, enfim, como é essa escolha para os lançamentos?

Fabiana: Grande parte de escolher os títulos da Sobinfluencia é o fato de que nós somos pessoas curiosas com as coisas esquisitas que as pessoas pensam. Então, basicamente nós estamos constantemente futricando esses pensamentos, pequenos textos muitas vezes apagados, movimentos que parecem diminutos.

São autores que são considerados “menores”, mas são de infinita potência. A escolha parte de pessoas que puderam imaginar radicalmente e fora da grade de aço da realidade, acho que esse é o nosso maior parâmetro.

Quais foram esses seres que habitaram e habitam esses movimentos que puderam reencantar o mundo da sua forma e dentro dos seus espaços? Enfim, pessoas que tem um apelo e uma paixão insubmissa pela radicalização de tudo. 

Principalmente coisas não programáticas. Eu tenho um texto que é o “Isso não é um programa” e acho isso bem importante de dizer, que não nos interessam políticas caucadas em programas específicos, instituições específicas, dogmas e nem nada.

Nosso interesse está nesse lugar negativo, de potência negativa, uma potência de imagem e imaginação, imaginação radical. Acho que é basicamente isso, muitas das coisas que nós publicamos vem de pesquisas que nós desenvolvemos, obviamente não ignorando que temos nossas afinidades com determinados temas. Também temos pessoas que nos indicam coisas, que conversamos sobre. 

A Sobinfluencia é um grande projeto imaginário, é uma grande inquietação. Nós estamos sempre inquietamente pesquisando e é uma pesquisa não acadêmica, é uma pesquisa difusa, desviante.

Artur: Existe também a revista de vocês, a revista Cardume!

Fabiana: Como muitas coisas da Sobinfluencia, isso veio de um sonho haha. A frase “ler e caminhar podem salvar a sua vida ou te levar para a cadeia” foi um sonho do Rodrigo, o nome “Cardume” foi um sonho meu. 

Eu tenho uma parte do cérebro que é destinada a se interessar por coisas do fundo do mar, sei lá porque. Um dia eu estava assistindo um documentário sobre atum hahaha! Sei que é meio aleatório, mas enfim, eu não sei se sonhei ou se estava no documentário, mas o documentário/sonho dizia que atum são cegos e se orientam por uma forma de magnetismo que eles tem com a terra. 

  A terra possui magnetismo, mas pela atividade capitalista, o magnetismo da terra foi modificado e desde então os atuns estão completamente perdidos, eles rondam o oceano com essa bússola tonta.

Essa é uma frase do André Breton também, que ele fala de rodar com a bússola tonta, mas enfim, os atuns estão perdidos, porém eles estão perdidos dentro de um cardume, correndo juntos e perdidos. Achei isso muito bonito e decidimos colocar esse o nome da revista. 

Na verdade, a Sobinfluencia era pra se chamar cardume, mas o Rodrigo iluminou minha cabeça hahaha, fazendo eu mudar de ideia, Sobinfluencia de fato era melhor.

Ornella: Você falou dos surrealistas que existem hoje em dia e também dos autonomistas que também estão na ativa pelo mundo. Vocês têm contato com essas pessoas? Trocam referências com esses grupos? 

Fabiana: É tudo que a gente faz, 24h por dia, 7 dias por semana! Acho que a potência de tudo isso que fazemos e sobre o que falamos aqui está no encontro. Uma coisa radical, muito mais radical do que qualquer outra coisa é o encontro.

Então, existe esse magnetismo muito grande entre pessoas que se abrem para esses desvios e para essas derivas e, de alguma forma, a gente se encontra no mundo. Respondendo a pergunta: com certeza! Dentro dos movimentos surrealistas de uma forma geral, dentro das pessoas afetuosas pelos autonomismos ou pelos diversos situacionismos existe esse desejo muito grande de transgredir, isso faz com que a gente troque sempre, troque livros, referências, músicas, absolutamente tudo.

Nós sempre fazemos encontros no nosso canal do youtube com as pessoas e a ideia é basicamente “hm, essa pessoa vê as coisas de um certo prisma e outra pessoa vê as coisas de um prisma transverso, vamos colocar elas juntas para ver o que elas dizem?”. É basicamente esse o ensejo. Funciona e é muito legal! hahaha.

Acho que existe todo um aspecto de diversão nisso, porque é muito divertido trocar e ouvir, estar ali naquele reduto onde você ouve as pessoas falando das suas inquietações e imaginações. Os autonomismos, situacionismos ou surrealismo, enfim, a maior parte desses movimentos sempre foram baseados no encontro entre pessoas apaixonadas e pretensas a enfrentar tudo.

Artur: E qual processo de livro você curtiu mais fazer? Tem alguma história surreal com os processos aí pra contar?

Fabiana: Que eu curti fazer, sem dúvidas foi o Inana! Foi uma mudança radical na minha concepção do que é editar um livro, porque eu não tenho a mínima ideia sobre a língua suméria. Foi um processo surreal, é o primeiro livro de poesia da Sobinfluencia e isso é muito significativo.

O nosso primeiro livro foi o Por uma Arte Revolucionária Independente que fala sobre poesia, aí depois veio o Por uma insubordinação poética que também fala sobre poesia, mas “Inana” foi o primeiro livro de poesia. Isso mudou o caminho pra gente.

Foi ali que conseguimos espiar de fato por uma rachadura em um lugar que não existe. Isso mudou muito nossa relação como editores, revisores, diagramadores e etc. Simplesmente porque a gente não sabia o que fazer hahaha! E isso foi ótimo, colocou a gente em um lugar que jamais imaginaríamos. 

De repente, você está alí baixando dicionários e dicionários de sumério, porque não fazíamos ideia de como funcionava a língua. Isso foi muito maravilhoso, inclusive esse intercâmbio com o Guilherme Gontijo, que é o tradutor do livro junto com o Adriano Scandolara. A troca com eles foi fantástica.

Sobre o momento surreal que você perguntou, envolve a Jules Falquet, que é a autora de um livro que lançamos, o  Pax Neoliberalia. Nós conhecemos ela sem querer, antes da Sobinfluencia existir.

Na ocasião, nós estávamos trabalhando na Flipei em 2019, a Flipei é a festa independente da Flip, inclusive questionando a Flip. Enfim, nós estávamos lá e ela chegou no Rodrigo com um português super confuso, dava pra ver que ela não era do Brasil. Ela chegou e pediu para que colocássemos os livros dela lá no barco, só que nós esquecemos de colocar hahaha, puts, depois ela veio cobrar “e aí, vendeu alguma coisa?” e nós “er…hehe opa…não”. 

Aí ela se apresentou, falou quem ela era, o que estudava e tal. Quando a Sobinfluencia passou a existir, a gente mandou um e-mail pra ela dizendo “Oi, a gente se conheceu lá na Flipei, nós achamos você fantástica, nós lemos suas coisas, vamos fazer um livro juntos!”. 

Passaram-se 2 anos de Sobinfluencia e nada desse livro sair, já tínhamos lançado várias coisas, mas aí finalmente conseguimos publicar o livro dela e ela voltou pro Brasil. Assim, o contato com a Jules Falquet é surreal, ela é uma guerrilheira, ela caminhou por diversas guerrilhas, da Guatemala, El Salvador, México, Chiapas e muitas outras.

Ela passou por todos esses lugares e encontra a gente aqui, basicamente três crianças fazendo livros, sabe? E ela senta e conversa coisas que nós nunca imaginávamos que fossemos ouvir na vida. São histórias que me contaminaram, contaminaram nossa subjetividade, o que produzimos, o nosso trabalho, o que exercemos, isso foi surreal. 

Mais uma vez, é um encontro. Todas as pessoas que passaram pela gente foram encontros surreais, mas a Jules em específico foi um encontro que mudou radicalmente a gente, foi um cisão. 

Ornella: Dá pra perceber que vocês têm um senso de coletivo que extravasa para a ética-estética da editora, isso é muito bacana. Conta pra gente o que você tem escutado de som, que filmes tem visto, como vai você? hahaha.

Fabiana: Eu tô lendo o Chamada, que é um livro de coletâneas e conglomerados de chamados radicais da França, ali nos anos 1960. Tem o “Oi”, que é um chamado que era distribuído nas ruas, em forma de vários panfletos, enfim, tem todos esses panfletos do “Oi” e diversos outros. Inclusive, esse é um livro que eu sempre retomo de alguma forma, sempre leio novamente. O Comitê Invisível escreveu o prefácio pra esse livro, também é excelente. 

Também tô lendo um texto que vamos publicar ano que vem, que é o “Black Music” do Amiri Baraka, que é um pensador radical insano e um dos meus favoritos. Esse livro é uma série de ensaios que ele faz de espaços e momentos potentes do Jazz. São ensaios, muito pessoais e aproximações da imaginação radical negra muito importantes, no jazz como fenômenos político e estético. 

Eu tenho escutado muito o Lanquidity do Sun Ra, é um disco muito especial pra mim.

Ornella: É um baita disco, eu piro no Sun Ra também!

Fabiana: E é um disco importante para o Spiritual Jazz, ele é uma oração. Existe uma frase do que Ted Jones, que eu gosto muito que é “o Jazz é minha religião e o Surrealismo é meu ponto de vista”. Eu acho muito bonita essa frase, porque o Ted Jones era um poeta surrealista e também um músico de jazz. 

Artur: Faltou um filme, manda um filmão aí pro nossos leitores!

Fabiana: Puts, acho que vou com o Videodrome do Cronenberg, que é o último que eu 

assisti e curto muito hahaha Rápido assim foi o que veio na minha cabeça.

Tem o Crimes do Futuro também, que é mais recente, acho que é uma boa indicação, já que estamos falando do Cronenberg.

Mas pensando aqui, eu recomendo os filmes do Jan Švankmajer, que é um cineasta surrealista tcheco, ele é muito foda!

Ornella: Massa, o esse novo não assisti, mas o Videodrome é sensacional. Bom, você falou do seu zine e eu queria saber se você ainda escreve, se já lançou algum texto seu ou se pretende lançar.

Fabiana: Ultimamente eu escrevo muito menos do que gostaria, mas eu só sou capaz de fazer as outras coisas que faço porque escrevo, pra mim isso é indivisível. Todos os livros que a Sobinfluencia edita existe uma forma de escrita, durante um tempo nós estudamos aquilo, é nossa pesquisa. 

Mas fora isso, os Cardumes tem um texto meu, no primeiro tem o “por que ler sem esperança”, no segundo tem o “por uma política do experimento primitivo”. Enfim, escrevo sempre, não publico nada nunca, então não sei se dá pra dizer que sou uma autora, porque eu nunca publiquei nada de fato, mas eu escrevo.

Artur: Minhas fontes me contaram que tem um texto seu publicado em um livro sim! hahaha.

Fabiana: Ah, tem o prefácio do Por uma Arte Revolucionária Independente, mas aí o livro da minha editora, né, não conta. 

Artur: Claro que conta!

Fabiana: Sim, não me entenda mal, eu adoro os livros da Sobinfluencia, mas acho que não conta hahaha.

Ornella: Acho que conta, é uma escrita importante, mas entendo a Fabiana dizer que não conta hahaha

Fabiana: É um tratadinho ali no prefácio. Eu acho engraçado porque sou uma entusiasta da pirataria e do fato das pessoas copiarem, citarem e foda-se a fonte, e é engraçado que as pessoas às vezes vão citar parte do prefácio que escrevi e colocam como se fosse o Trotsky, Breton ou o Diego Rivera, que são os autores do livro hahaha. Eu dou risada e acho o máximo, me sinto lisonjeada. 

Ornella: Hahahaha muito bom mesmo. Espero que um dia a gente possa ver mais dos seus escritos, né? Deve ter muita coisa interessante. 

Fabiana: Eu tenho vários caderninhos, quem sabe? Eu espero um dia escrever algo com consistência para que possa publicar.

Artur: Você comentou sobre a importância do punk na sua vida, mas hoje em dia você está mais ligada à música negra. Como foi essa mudança? Parou de fazer sentido a música punk?

Fabiana: Não sei se parou de fazer sentido. Sentido tem muito pouco a ver com isso, eu acho. Existem coisas a serem descobertas nesses outros lugares que hoje eu transito, coisas que me atravessam com muito mais honestidade, sabe?

Artur: Entendo, faz todo sentido. Conta agora como as pessoas podem apoiar a Sobinfluencia e onde comprar, enfim, momento propaganda!

Fabiana: Nosso instagram é o @sobinfluencia, no twitter é @sobinfluencia_ e no youtube é Sobinfluencia. O pessoal pode nos acompanhar por qualquer um deles! Editoras independentes sobrevivem de elos, esses elos são importantes e nós colocamos tudo que fazemos em pré-venda.

É importante citar isso, porque a pré-venda de um livro define o livro, então, quando nossos leitores e pessoas próximas conseguem apoiar as pré-vendas, isso possibilita que a gente publique. É como se o livro não existisse sem esse apoio, então nós temos sempre livros em pré-venda e quem puder apoiar, é super significativo pra gente!

No nosso site temos um blog também, nós colocamos texto lá semanalmente, várias colunas interessantes, vão lá, comentem, nós adoramos quando chegam e-mails de pessoas querendo conversar sobre os textos, é muito massa!

No começo da Sobinfluencia rolou até um grupo de estudos e isso foi insano! Porque foi algo espontâneo, não fomos nós que fizemos, eles só chegaram e avisaram e isso foi muito fod*! É muito louco como esses encontros criam lugares fantásticos.

Ornella: Que incrível isso, o trabalho de vocês move mesmo as pessoas.

Artur: Bom, vamos chegando ao fim e quero muito te agradecer, Fabiana! Muito bom conversar contigo, valeu pela presença!

Ornella: Prazer te conhecer, Fabiana! Obrigada por ter topado o convite e pelo papo gostoso, espero te trombar em breve!

Fabiana: Gente, muito obrigada pela oportunidade, pelo espaço para falar sobre essas coisas, é muito legal falar sobre a nossa trajetória, é algo difícil de termos espaço para falar. Obrigada mesmo!

Mais uma entrevista pra vocês, com a queridíssima Fabiana Gibim! Acompanhem a Sobinfluencia nas redes e comprem os livros, eu tenho alguns e são sensacionais, textos que você não acha em qualquer lugar em livros feitos com muito carinho.

A entrevista acabou, mas você pode continuar navegando por aqui.

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