Nós já falamos sobre a história da dança aqui no site, mas algumas pessoas ficaram chocadas com uma proibição histórica. Sim, houve uma certa proibição da dança na Idade Média. E, apesar disso, existia dança sim salabim! 

Inclusive rolou até um surto coletivo na época que colocou geral pra dançar. E é esse o nosso tema de hoje: afinal, como era a dança na Idade Média? Falaremos um pouco sobre o contexto histórico e quais tipos de danças eram feitas na época, dos plebeus até os nobres. 

Antes de mais nada, é bom deixar claro de que tempo e espaço estamos falando, não é mesmo? Nesse caso, a abordagem é relacionada ao período conhecido como Idade Média na Europa, a famosa “Idade das Trevas”. 

De quebra, também abordaremos o fenômeno que ficou conhecido como “Dançomania” ou “Coreomania”. Continue conosco para conhecer a tal da epidemia de dança que rolou nessa época. Então, bora lá?

Breve contexto da dança na Idade Média: dançar era mesmo proibido?

A Idade Média não é conhecida como “Idade das Trevas” por um acaso, né? Com duração de 10 séculos, o período de 476 até 1453 foi descrito pelos humanistas do Renascimento como:

“Uma Idade de Trevas, contrastando com o florescimento intelectual e artístico que se seguiu”.

No período, invasões constantes, miséria, fome, doenças, medo e ignorância predominaram no continente europeu. E, para dar aquele empurrãozinho de desgraça, a Igreja Católica aproveitou do momento de instabilidade e tomou conta, substituindo a sociedade civil pela sociedade eclesiástica. Aliás, ainda faremos um post sobre a dança cristã na Idade Média. 

Dança e Igreja Católica na Idade Média

Em outras palavras, isso quer dizer que uma pessoa não batizada na igreja, também não fazia parte da sociedade civil. Excomungados perdiam seus direitos civis e políticos, por exemplo. Na época, a Igreja era a maior fonte educacional e sua dominação ia desde a “alma” até os negócios dos fiéis. Sim, eles dominavam a vida pública e privada das pessoas.

Para reforçar a unidade religiosa conquistada por meio das ações constantes de evangelização, a Igreja Católica saiu na mão (literalmente) com muita gente. O clima já era de desgraça, mas isso não impediu que a instituição protagonizasse episódios que ficaram muito famosos, como as Cruzadas e a Inquisição, que são temas de diversos filmes e livros.

Em linhas gerais, o cristianismo separava o CORPO do ESPÍRITO. Por um lado, o corpo seria a representação da carne, um símbolo do pecado. Já o espírito seria a alma, o caminho de elevação e vida eterna no céu. Baseando-se nisso, conseguimos sacar que a relação entre a dança e a Igreja Católica não iria ser das melhores, né? 

Para além disso, esse período também foi marcado pelo fechamento de Teatros, sendo usados somente em raras ocasiões, sempre para cerimônias religiosas. A propósito, falamos sobre esse ponto no artigo da história do Teatro e sua suposta conexão com o pecado. 

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Tá, legal. Mas e a dança na Idade Média? O que aconteceu com ela? 

Digamos que o posicionamento da Igreja em relação à dança na Idade Média foi, no mínimo,  dúbio. Era condenada pela maioria e tolerada por parte de poucos. Nessa linha, Santo Agostinho chegou a qualificar a dança como “Pecado Grave” 😨.

Apesar disso, como seria possível impedir as manifestações populares que envolviam a dança? Isso ia ficar meio difícil mesmo, portanto, o que aconteceu foi que o próprio povo camuflou suas danças.

Antes, as expressões do movimento eram ligadas aos rituais pagãos de fertilidade, semeadura e colheita. Depois, as datas comemorativas foram adaptadas para a “nova crença” e os espíritos da natureza, fadas e elfos deram lugar para os anjos e santos. (Dica: temos um artigo que cita o festival da Saturnália, que, por sua vez, deu origem ao Carnaval).

Na Idade das Trevas, havia leis e interditos em relação à dança, porém, essas proibições referiam-se aos espaços sagrados, como igrejas e cemitérios. Sendo assim, o povo continuou a dançar. Mas o que será que essa gente dançava?

Entre os séculos XI e XII, foram registrados os seguintes estilos, incluindo a dança das Carolas na Idade Média:

1. Choreae ou Carola

Quem já dançou na Festa Junina da escola sabe muito bem o que é isso:

2. Tripudium

Essa aqui vem até com explicação, pra você aprender a conquistar seu mozão no próximo baile:

3. Dança de Los Seises

É aquela bem parecida com a da Festa Junina, em que as duplas vão trocando de lugar e de integrantes. Algo do tipo:

Guerra, Peste Negra e Epidemia de Dança na Idade Média

Até o século XIII, até que tava rolando um desenvolvimento, porém, o século XIV trouxe diversas crises, fossem elas militares ou dentro da igreja. Os nobres já estavam ficando meio brabos com esse negócio de domínio da Igreja e a Guerra dos Cem Anos veio pra ficar. Afinal, 100 anos né gente kkkkk sério, é muito tempo pra uma treta.

Como desgraça pouca é bobagem, logo após o início da guerra, surgiu a peste negra, que matou nada menos do que ⅓ da população da Europa. Nesse sentido, não podemos nos esquecer que não existia saneamento básico, era aquela maravilha, convivendo com ratos e tals.

No meio disso, surgiu um fenômeno muito interessante, que leva diversos nomes, mas aqui vou chamar de Dançomania. E esse foi um fenômeno que durou até o Renascimento, havendo registros em toda a Europa.

Dançomania, Epidemia de dança e mais

E, justamente por ter acontecido de forma espontânea por todo o continente, esse fenômeno recebeu nomes diversos, como: 

  • Epidemia de dança
  • Tarantismo
  • Dança macabra
  • Dança de São Vito
  • Coreomania
  • Dançomania

Tá, mas que diabo é isso? Para resumir, estamos falando de histeria coletiva, que na atualidade é chamado de surto coletivo (risos). Foi muito provavelmente uma resposta desesperada do corpo humano diante das dores físicas e psicológicas. 

Se, hoje, que vivemos uma pandemia, nós estamos todos meio esquisitos, imagina naquela época? Na Idade das Trevas, nem havia respostas para toda a desgraça que estava acontecendo, né? 

Enfim, esse fenômeno costumava começar com uma pessoa e ia se expandindo. No período de 1 mês, já havia registros de mais de 400 pessoas dançando literalmente até a morte. Falando nisso, as mortes eram causadas por exaustão, ataque cardíaco ou derrame cerebral.

Não sei se você leu bem o que foi dito ali em cima: 1 MÊS DANÇANDO. E não é dançando na paz, se abraçando em harmonia e tals. Pelos registros, essa era uma dança bem caótica e frenética. Por incrível que pareça, nunca conseguiram justificar porque rolou isso tudo, mas que rolou, rolou.

Obviamente, a Igreja Católica não perdeu tempo e absorveu o fenômeno para dizer que aquilo seria a representação da insanidade causada pelo pecado e o flagelo da peste enviada por deus para que as pessoas se arrependessem. Loucura total.

A dança entre a nobreza e a importância dos Trovadores e Menestréis

Agora, vamos às figuras que foram muito importantes para favorecer o gosto pela poesia, dança e música entre a nobreza da Idade Média. Isto é, os Trovadores e Menestréis são personagens que trouxeram muito das danças populares para dentro da corte.

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Apesar de alguns deles terem sido nobres, a maioria era de origem camponesa mesmo. Sabiam tocar diversos instrumentos, costumavam viajar muito e, justamente por isso, possuíam um repertório de danças populares bem vasto.

Essas danças foram adaptadas para o gosto da nobreza, surgindo assim uma diferenciação muito nítida no estilo que cada classe social dançaria. Segue aqui comigo: 

Haute Danse

Traduzindo o termo Haute Danse: Dança Alta. Típica dos camponeses, essa dança executa movimentos alegres, vivos, ágeis e saltitantes. Logo, era uma manifestação considerada como imoral pelo excesso de contato humano, toques, abraços e beijos que ocorriam.

Basse Danse

Traduzindo o termo Basse Danse: Dança Baixa. Ligadas aos nobres, são danças com suavidade, execução lenta, solene e elegante. Além da questão de não querer se igualar ao povo, saltando e girando, acontece que a galera usava umas roupas com uns bons quilos, né? Então, ficava meio difícil executar algo mais elaborado.

Por fim, espero que esse texto tenha matado a dúvida dos curiosos e informado um pouco sobre a Dança na Idade Média. Afinal, o período tem tudo a ver com o que seria o Ballet Clássico muuuuitos anos depois, pois alguns movimentos já estavam começando a surgir nessa época. Lembra da ideia de leveza do romantismo, retomada de temas medievais? Então, né! 

E para saber mais sobre a história da dança, é só seguir aqui com a gente no site Artcetera, começando pelos posts:

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