Nós já falamos dos Ballets de Repertório aqui no nosso site, certo? O tempo passou e hoje estou cumprindo a promessa de falar sobre o que aconteceu com o Ballet Clássico no início do século XX, o que, naturalmente, inclui os Ballets Russes de Diaghilev.

A propósito, já vou mandar o 🚨 alerta de super texto 🚨. O que significa que a história é boa e longa, mas termina de ler tranquilo, pois garanto que é boa mesmo! Aliás, já vou adiantar que tem vanguarda, intrigas, escândalos, fofocas e afins. 

Antes de mais nada, vale abrir um breve parêntese para falar do Ballet Clássico. Essa expressão das Artes Performáticas é conhecida e dançada até hoje, mesmo com modificações de acordo com o país e a época que está sendo interpretada. 

Porém, existiu um nome vinculado à Dança Clássica e que mudou a história de diversas artes ao mesmo tempo: Dança, Música e, também, Artes Visuais. Seu nome é Sergei Diaghilev. E o texto de hoje é justamente sobre os Ballets Russes de Diaghilev. Chega +!

De onde veio a famosa companhia Ballets Russes de Diaghilev?

Daqui em diante, mostraremos a contribuição histórica e as características dos Ballets Russes de Diaghilev. E aqui vai um spoiler: poucas companhias do mundo podem dizer que contaram com figurinos do ícone da Moda Coco Chanel, não é mesmo?

E, sem mais delongas, vamos à história dos Ballets Russes de Sergei Diaghilev (ou Balés Russos de Diaghilev, se preferir)!

Quem foi Sergei Diaghilev?

Sergei Diaghilev (a.k.a. Serge) foi um aristocrata russo muito ligado às artes, que nasceu em 1872. Em sua adolescência, tentou aplicar seu talento em diversas áreas, até decidir que se tornaria um compositor de Música Clássica

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Acontece que ele foi rapidamente dissuadido da ideia por ninguém menos que Rimsky Korsakov, um dos maiores compositores russos. Na época, ele admitiu que o jovem tinha muito conhecimento de Música, mas pouca capacidade para a carreira. Tapa na cara com luva de pelica que chama??

Pois Diaghilev não se deu por vencido. Ele quis tanto trabalhar com arte que conseguiu. Fez faculdade de Direito com pouco entusiasmo e logo entrou para o serviço público, época em que trabalhou como funcionário dos Teatros Imperiais. 

E foi a partir daí que tudo começou (sem saber que estava começando). Por sinal, Diaghilev era descrito como um homem atraente, que falava diversas línguas, culto, com elevado gosto estético 🍸, colecionador e conhecedor de arte. 

Todas essas características, juntamente com o tempo-espaço em que ele se encontrava, foram os elementos ideais para dar uma sacudida na arte, principalmente na Dança. E, calma, falaremos mais sobre isso aqui embaixo.

A Rússia da época de Diaghilev estava mudando

O início do século XX foi um período de grande efervescência política no mundo inteiro. E, na Rússia, isso foi tão forte que gerou a Revolução de 1917. Como já falamos em outros textos, a arte e a cultura fazem parte da sociedade e caminham com ela. Ou seja, a revolução também estava próxima para as manifestações artísticas.

Acontece que nem sempre o mundo está pronto para as mudanças, não é? E com Diaghilev não foi diferente. Ele tinha muita vontade de propor mudanças dentro da arte e isso não foi bem visto.

Durante seu tempo trabalhando nos Teatros Imperiais, ele sugeriu uma alteração para o Ballet “Sylvia”. Entretanto, a burocracia do próprio Teatro não permitiu que a ideia fosse para frente. E, para evitar novos atritos, o jovem foi demitido.

Mas esse curto período foi de grande valia pro seu trabalho, já que foi ali que ele reuniu os colaboradores e seguidores de seu GRANDE PLANO DE DOMINAÇÃO MUNDIAL!!! Hahaha! Brincadeira, gente, ele não queria dominar o mundo, mas ele tinha um plano, sim. 

Nesse plano, estava incluso o combate do enrijecimento apático dentro da arte, em especial da nossa amada Dança. E como ele fez isso? Através de uma publicação chamada “O Mundo da Arte”. Segue o fio!

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E o que falava essa publicação “O Mundo da Arte” de Diaghilev?

Até o fim de 1904, Diaghilev construiu um verdadeiro campo de batalha contra as normas artísticas vigentes. Tudo isso através dessa revista artístico-literária intitulada “O Mundo da Arte”.

Uma das coisas que propunha era a colaboração ativa de pintores para revolucionar a concepção de cenários e figurinos dentro da Dança. Não por acaso, uma das características marcantes da companhia dele é justamente o figurino dos Ballets Russes de Diaghilev.  

Adicionalmente, cabe ressaltar um contraponto: de fato, o vanguardista tinha um apego forte à corrente moderna. Entretanto, ele era um russo orgulhoso, logo, tentava trazer destaque para os seus compatriotas. 

Aaaah… e sobre a Música, ele queria ousadia também, inclusive foi um dos grandes responsáveis para que fosse criado o conceito de Modernismo na Música. Quem conhece já sabe de quem eu tô falando, né? Igor Stravinsky estará conosco hoje (palmas da plateia).

E, se não conhece, tudo bem, vem com a gente que você vai se surpreender com o tanto de bafafá, buxixo e intriga que o Diaghilev proporcionou em diversas linguagens artísticas. Enquanto isso, aproveite para ouvir uma playlist de Ballet Clássico para embalar a leitura!

Tá, mas cadê a Dança no Ballets Russes de Diaghilev?

Tudo começou quando Diaghilev assistiu à estreia de uma Ballet chamado “Le Pavillon D’Armide”. O espetáculo foi coreografado por um jovem ultra talentoso (e uma grande referência para a Dança posteriormente): Michel Fokine.

Os dois conversaram e perceberam que tinham ambições muito parecidas. Deu match, bora trabalhar juntos e together. Após isso, Diaghilev convenceu a direção dos Teatros Imperiais a liberar um grupo de bailarinos para que ele fizesse uma turnê. Afinal, estariam no período de férias… que mal haveria em emprestar alguns bailarinos? CONFIA…

E sabe quem estavam entre esses bailarinos? Simplesmente dois dos maiores nomes da Dança no ocidente: Vaslav Nijinsky e Anna Pavlova. Em uma nota paralela, já mostramos no Instagram que essa bailarina ficou tão famosa que ganhou até um doce pra chamar de seu!

Ballets Russes de Diaghilev - Pavlova

Vamos de turnê dos Ballets Russes de Diaghilev?

Depois de reunir os bailarinos dos Teatros Imperiais que estavam “de férias”, começou a saga dos Ballets Russes de Diaghilev. Veja só!

1ª temporada dos Ballets Russes de Diaghilev

A estreia da 1ª temporada dos Ballets Russes aconteceu em 1909, na cidade de Paris – e foi um sucesso. As pessoas ficaram encantadas com as remontagens e novas coreografias propostas pela companhia. 

Apesar de estar endividado até o pescoço, Diaghilev sentiu-se satisfeito com o resultado. A resposta do público deu a ele a motivação necessária para saber que seguiria em frente com o projeto.

A partir daqui, Diaghilev abandonou as outras formas de arte para se dedicar exclusivamente à Dança. E o seu envolvimento amoroso com o bailarino Nijinsky deu um empurrãozinho nessa decisão também.

O programa da 1ª temporada contava com os seguintes repertórios, todos coreografados por Michel Fokine: 

  • Les Sylphides
  • Danças Polovitsianas (da ópera Príncipe Igor)
  • Cléopatre
  • Le Pavillon D’Armide
  • Le Festin (diverstissement)

2ª temporada dos Ballets Russes de Diaghilev

Já a 2ª temporada ocorreu em 1910 e contou com muito mais brilho e glamour do que a edição anterior. Nessa  turnê, a companhia apresentou Ballets inovadores que são dançados até hoje, tais como “O Pássaro de Fogo” e “Schéhérazade”.

Aqui, o gênio da música Igor Stravinsky foi revelado ao mundo, com suas partituras vibrantes e complexas. Em paralelo, os cenários de Bakst contribuíram para a fundação do “estilo Ballet Russe”: muitas cores, elementos pitorescos e aquele toque de exotismo, algo inerente ao sonho. 

O sucesso da 2ª temporada mudou definitivamente o futuro dos bailarinos. Pouco a pouco, eles começaram a pedir demissão dos Teatros Imperiais para dedicar-se totalmente à companhia. Resultado parcial: Diaghilev 1 x 0 Teatros Imperiais.

A seguir, listamos o programa da 2ª temporada, com coreografias também de Michel Fokine. (Calma que isso é importante, daqui a pouco essa exclusividade de criação vai dar bafafá): 

  • O Pássaro de Fogo
  • Schéhérazade
  • Les Orientales
  • Le Carnaval
  • Giselle (Sim, aquele dos Ballets Românticos)

3ª temporada dos Ballets Russes de Diaghilev

Em 1911, já com o nome definitivo “Ballets Russes de Diaghilev”, a companhia partiu para sua terceira temporada em Roma, Paris, Monte Carlo e Londres. Assim, o grupo tornou-se permanente e sua principal estrela era Nijinsky, um dos grandes bailarinos que já passaram por esse mundo.

Nessa 3ª temporada, o programa foi o seguinte:

  • Petrouchka 
  • O Espectro da Rosa
  • Le Dieu Bleu
  • Narciso
  • O Lago dos Cisnes (o original foi apresentado em Londres, pois não era um repertório conhecido pela Europa)

E vamos de bafafá? A briga entre Fokine e Nijinsky

Até aqui, já vimos que Michel Fokine era o coreógrafo residente de Diaghilev. Sentindo-se seguro e respeitado, ele tinha total liberdade de criação. Acontece que, em 1912, Diaghilev não se sentia satisfeito com Nijinsky sendo apenas (?) a maior estrela da companhia. Ou o maior bailarino masculino que ela possuía. 

Aí, Diaghilev resolveu tornar o então bailarino em um coreógrafo, lembrando que uma coisa não exclui a outra. As motivações estavam tanto em seu amor por Nijinsky quanto por ver nele um talento não explorado para criar coreografias. E isso gerou ciúmes? Claro que sim.

A estreia de Nijinsky como coreógrafo

Agora, nós entramos na parte escândalo no mundo da arte. Essa decisão de Diaghilev, sem querer, gerou um marco na história da Dança. Nijinsky compôs um dos Ballets mais polêmicos do século: “L’Après Midi d’um Faune”, que se traduz como “O Entardecer de um Fauno”.

Para sua coreografia, Nijinsky estudou as formas dos vasos gregos, as linhas assimétricas e os perfis retilíneos. Neste mesmo período, Fokine trabalhava em um novo Ballet, também com temática grega, que se chamaria “Daphne et Chloé”.

Fokine se sentiu levemente ameaçado, mas manteve uma atitude conciliadora com seu novo amigo de profissão (risos de conciliação). Por sua vez, o pintor Leon Bakst, responsável pelos cenários e figurinos da companhia, recebeu a tarefa de trabalhar para os dois Ballets, que, aliás, estrearam simultaneamente.

Favoritismo em benefício de Nijinsky

Acontece que Diaghilev deu o empurrãozinho da discórdia quando ofereceu mais verba para o trabalho de Nijinsky. Em contrapartida, ele tratava a coreografia de Fokine como pouco interessante.

O favoritismo tava na cara, né? E não parou por aí: Nijinsky teve direito a 120 ensaios para seu Ballet de apenas 12 minutos. Por outro lado, Fokine nem conseguia terminar seu Ballet de 50 minutos já nas vésperas da estreia. 

Circo armado pra treta rolar e é claro que rolou. Fokine estava putásso (com razão?) e teve uma discussão violenta com Diaghilev na frente de toda a companhia, no dia do ensaio geral. Quem mexe com Artes Cênicas sabe que ensaio geral já é estressante por si só. Agora, calcule com esse bafão rolando. 

A estreia de “O Entardecer de um Fauno” foi uma baita polêmica (já falaremos sobre), um escândalo para a época. Isso acabou ofuscando totalmente o Ballet de Fokine. Antes de falar dos desdobramentos da rinha de coreógrafos, vale a pena dar uma atenção para o que tem de importante no Ballet de Nijinsky e o porquê do choque causado pela apresentação.

Por que “O Entardecer de um Fauno” chocou a sociedade?

“O Entardecer de um Fauno” é uma coreografia de 12 minutos, inspirada no poema de Mallarmé. O espetáculo foi estreado em 1912, com música de ninguém mais, ninguém menos, que Claude Debussy. 

O Ballet tem início com um Fauno – interpretado pelo próprio Nijinsky – deitado na grama em uma tarde ensolarada. Sete ninfas aparecem e ele as persegue, porém, fogem dele. Uma delas deixa o véu cair, então, o Fauno coloca o tecido na grama e copula com o tal do véu até atingir o orgasmo. 

É isso aí mesmo que tu leu, a bixa insinuou uma masturbação+orgasmo com o véu ao vivasso. A música e o tema sensualíssimos, junto à interpretação realista do bailarino, foram a receita perfeita para a sociedade ficar chocada.

Além disso, ressalto que existem elementos coreográficos importantíssimos nessa obra. Os movimentos executados de perfil e as linhas quebradas que o corpo compunha eram uma afronta com a estética do Ballet Clássico. Algo novo estava surgindo na dança, marcando assim uma das diferenças entre o Ballet Clássico Russo e o Ballet Russo de Diaghilev. 

De certa maneira, o choque da sociedade pode ser uma boa. Isso porque, depois do relato do escândalo pela imprensa, as pessoas ficaram mais curiosas. Sendo assim, os ingressos do restante da temporada se esgotaram no mesmo dia. Sucesso total, vitória da arte.

A plateia e os críticos iam ver a companhia somente pelo Fauno, o que deixou Fokine em segundo plano. Enfim, o coreógrafo ficou super frustrado com isso, já que seu Ballet “Daphne et Chloé” também era uma obra incrível. 

Reza a lenda que Fokine não recebeu nem o tradicional ramo de flores na estreia (dado aos coreógrafos na estreia de alguma obra). Amargurado, arrasado, triste e muito bravo, Fokine decidiu deixar a companhia.

“A Sagração da Primavera”: é polêmica o que vocês querem?

Fokine foi embora e Nijinsky se tornou o coreógrafo da companhia, preparando-se para a nova temporada. Em 1913, a turnê ocorreu no recém-inaugurado Teatro dos Champs Elysées em Paris. Para isso, ele preparou dois Ballets: “Jeux” (Jogos) e “Le Sacre Du Printemps” (A Sagração da Primavera).

Temporada dos Ballets Russes com coreografias exclusivas de Nijinsky

“A Sagração da Primavera” foi um salto de criação e vanguarda tanto para a Dança, quanto para a Música. Falando nisso, diversas companhias ao redor do mundo têm versões próprias e super variadas desse Ballet. 

Em geral, essas versões mantêm o tema e a música de Igor Stravinsky – composição essa que deu início ao Modernismo dentro da Música. E a versão mais famosa desse Ballet, para além da original, é a da companhia da Pina Bausch.

Estamos falando de um Ballet em duas partes, que trata das lendas pagãs russas, com o sacrifício de uma das mulheres da aldeia para que haja uma boa colheita na primavera. A grande sacada está na junção do tema visto como “tribal” com uma música completamente dissonante.

A coreografia é toda torta, com os bailarinos em posições quase anti-ballet. Pés para dentro, movimentos de tremor, violência e muita agitação. Já a música é quase uma obra à parte, extremamente complexa e assimétrica.

Essa junção de tema + dança + música gerou um dos “motins” mais famosos da arte. O público vaiou e brigou entre si até chegar ao ponto de levantar para agredir os músicos e bailarinos. A polícia interveio, a obra não chegou ao final e pode parecer loucura, mas… era exatamente isso que Diaghilev queria.

Em meio ao ~furdúncio~, o Ballet foi apresentado pelo resto da temporada. Dali em diante, os públicos foram menos hostis, mas também não curtiram a obra e ela foi esquecida, sendo retomada e reconstruída somente em 1980. 

Nova fase dos Ballets Russes de Diaghilev e a demissão de Nijinsky

Digamos que nosso amigo Diaghilev era um pouco ciumento e mantinha um cerco em volta do seu protegido Nijinsky. Contudo, a companhia tinha uma turnê pela América do Sul previamente agendada. E agora, José?

Temporada dos Ballets Russes na América do Sul

Apesar de temeroso, Diaghilev ficou na Europa e a companhia viajou sem ele. É interessante ressaltar que a relação dos dois era um pouco complicada. Diaghilev era do tipo que “ficava em cima” e é um caso que envolveu romance, trabalho, estrelato, ego, enfim. Em seu diário, Nijinsky revelou que também se sentia atraído por mulheres.

Ao estar sozinho pela primeira vez dentro do navio com a companhia, Nijinsky se envolveu com a também bailarina Rômola de Pulszky. O romance estava no ar (ou no mar? risos). O caso evoluiu muito rápido, os dois compram as alianças no Rio de Janeiro (alô Brasil!) e se casaram em Buenos Aires, em setembro de 1913.

E você aí achando que sua/seu/sue amiga/o/e indo morar com crush depois de dois encontros é exagero, né? Essa manobra é old já.

A temporada na América do Sul foi um sucesso e, na volta para a Europa, Rômola anunciou que está grávida. Muito linda a história, tudo muito fofo, mas quem não gostou nada nadinha nadica dessa conversa toda foi o Diaghilev. Logo que recebeu a notícia do que estava acontecendo, tratou de demitir Nijinsky. 

Meu deus… e depois? Quem poderia coreografar? E quem seria a estrela dessa companhia?

Ué, era só recontratar o Fokine! E foi isso mesmo que aconteceu. Diaghilev aproveitou a deixa para também contratar uma nova estrela (e também seu novo amante rs). Alguém que, em breve, seria outro coreógrafo da companhia (ó a história se repetindo aí). O escolhido foi o recém-formado na escola Imperial: Leonide Massine.

Os novos Ballets de Fokine, estreados em 1914, foram:

  • Die Josephslegend
  • Le Coq D’or
  • Les Papillons

Mais um escândalo do Ballet Russo de Diaghilev, agora feat. Cubismo e Surrealismo 

Sabe aqueles movimentos artísticos que quebraram paradigmas? Então, siga conosco. Enquanto os intelectuais ainda estavam decidindo se gostavam ou não do Cubismo, Jean Cocteau chegou em Diaghilev com o argumento do próximo Ballet da companhia: “Parade”.

Temporada dos Ballets Russes com Satie, Picasso e Massine

A ideia da coreografia de “Parade” estava na briga entre o status quo e a vanguarda, que ocorre por meio de personagens de circo. Diaghilev decidiu chamar o compositor Eric Satie para compor a música, o pintor Pablo Picasso para cenários e figurinos e, finalmente, Leonide Massine para a coreografia.

A estreia aconteceu em 1917 e gerou um escândalo próximo ao que ocorreu com “A Sagração da Primavera”. O mais interessante é que foi dentro do programa desse ballet que a palavra “Surrealismo” foi usada pela primeira vez, sabia? Novamente, isso mostra como Diaghilev e sua companhia tinham um poder propulsor de ampliação das fronteiras na arte.

A partir dessa obra, a vanguarda se tornou, cada vez mais, a fonte de inspiração dos artistas. Nesse sentido, a companhia abandonou suas fontes ligadas às lendas e folclores russos para apostar na avant-garde.

O então coreógrafo Massine não tinha os dotes do incomparável Nijinsky. Entretanto, ele mostrou a que veio e criou Ballets sofisticados, espirituosos, que eram animados por gestos meio grotescos e até caricatos. Podemos destacar os seguintes:

  • Parade
  • Les Femmes de Bonne Humeur
  • Le Tricorne
  • Le Boutique Fantasque
  • Pulcinella

Na década de 20, a relação entre Massine e Diaghilev não ia bem e, após uma discussão bem feia, o coreógrafo decidiu abandonar a companhia.

Última fase e fim dos Ballets Russes de Diaghilev 

Sem seu coreógrafo queridinho, Diaghilev decidiu investir em Bronislava Nijinska como a coreógrafa principal da companhia. E esse nome não parece tão estranho, não é? Pois sim, ela era irmã de Nijinsky.

Temporada dos Ballets Russes com Bronislava Nijinska

A partir de 1922, a contribuição de Nijinska para a companhia envolveu obras arrojadas e já pendendo para o Neoclássico:

  • Le Renard
  • Les Biches
  • Les Noces
  • Le Train Bleu (essa com figurinos de Coco Chanel!)

Temporada dos Ballets Russes com George Balanchine

Em 1926, Nijinska deixou a companhia e, depois disso, foi contratado o último grande coreógrafo dos Ballets Russes: George Balanchine. Ele contribuiu com dez trabalhos para a companhia. Infelizmente, apenas dois deles sobreviveram até os dias de hoje: “O Filho Pródigo” e “Apollo”.

Balanchine foi um dos grandes nomes da Dança por ter criado uma técnica própria de Ballet Clássico, que era uma mistura entre os estilos italiano, russo e francês. Teve uma parceria com Igor Stravinsky por anos e os dois foram morar nos Estados Unidos após o fim da companhia de Diaghilev.

Outra contribuição importante de Balanchine foi a fundação do School of American Ballet em 1934. Já em 1948, ele foi essencial para a criação da companhia de Balé estadunidense (que existe até hoje): o New York City Ballet, onde trabalhou até sua morte em 1983.

O que aconteceu com os Ballets Russes após o falecimento de Diaghilev?

Voltando para os Ballets Russes, nosso amigo Diaghilev faleceu em 1929. E isso aconteceu durante a temporada em que Balanchine estreava “O Filho Pródigo”. Imagina só o que aconteceu depois disso?

O repertório dos Ballets Russes sobreviveu, mas a companhia não demorou para se desintegrar. Um pouco depois, ela se dividiu em duas vertentes que disputavam os direitos sobre o repertório original. 

Entre idas e vindas, falta de dinheiro, sem espaço em teatros e boa parte do repertório saindo de moda, essas companhias que foram surgindo depois acabaram. Em todo caso, o legado do trabalho de Diaghilev e seus Ballets Russes sobrevivem até hoje.

Espero que vocês tenham curtido esse texto e confesso que tenho um baita carinho por diversas coreografias citadas. Minha favorita é, sem sombra de dúvidas, “A Sagração da Primavera” e a sua? Conta pra gente aí!

Se quiser ter um panorama mais “visual” antes de tomar sua decisão, assista ao vídeo “Diaghilev and the Ballets Russes”, narrado por Tilda Swinton:

Lembrando também que, nesse mesmo período, estavam acontecendo outras rupturas mais intensas na Dança. No blog Artcetera, falamos sobre isso no texto das matriarcas da Dança Moderna. Siga aqui no site para conferir mais conteúdos de arte e cultura!

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