Parte importante da história da dança e muito famosos até hoje, os balés de repertório são o tema deste texto. E eu tenho certeza de que você conhece pelo menos UM dos que falaremos aqui!

Em francês, são chamados de “ballet d’action” e, necessariamente, contam uma história por meio dos movimentos da dança clássica. Aliás, essas narrativas costumam ser bem longas. Já foram mais, porém, hoje em dia o pessoal pega leve!

Essas histórias têm bastaaaante personagens, um monte de bailarinos, figurinos, cenários, mímica… Às vezes, tem até orquestra junto e afins. Então, vamos lá conhecer um pouco mais da história e do enredo desses balés de repertório?

Afinal, o que são os balés de repertório?

Antes de abordar os principais balés de repertório, vamos às curiosidades sobre esse estilo. Depois disso, não deixe de conferir nossa listinha de espetáculos, ok?

O que significa balé de repertório (ballet de repertório)?

Balé de repertório é um espetáculo de Artes Cênicas que retrata os contos por intermédio da dança. Também conhecido como balé clássico de repertório, a performance acontece de maneira similar às peças de teatro, mas, nesse caso, o elenco se expressa com o corpo. 

Quais são os balés de repertório mais famosos no mundo?

De acordo com o blog do Teatro Eva Wilma,  listamos a seguir os 3 ballets de repertório mais famosos. E, logo adiante, falaremos um pouco desses espetáculos, junto com outros 6 que também são bastante conhecidos:

  • O Quebra-Nozes
  • Coppélia
  • O Lago dos Cisnes

Ballets românticos

Por acaso, você já se perguntou como era o balé de repertório do século XIX? E sabia que o maior símbolo do ballet clássico vem da era do Romantismo? Pois é, as sapatilhas de ponta foram criadas somente nessa época, ainda que o balé venha do século XV. Foi uma grande evolução técnica, mas não surgiu por um acaso. Bora entender o que rolou?

A primeira grande expressão cultural e artística da Idade Contemporânea foi o Romantismo, tornando possível um novo estilo interpretativo para a dança. Chegou ao fim da era do balé de corte com suas referências aos deuses do Olimpo, roupas pesadas e máscaras para dar espaço às pessoas reais, camponeses, lendas medievais, príncipes e sílfides.

Importante ressaltar que esse novo estilo foi moldado segundo o gosto da burguesia, que era a nova classe dominante. A propósito, a Revolução Francesa representou um marco importante desse período, trazendo inovações sobre o pensamento social e político. 

A dança não ficou de fora e também teve suas próprias mudanças. Em outras palavras, essa linguagem tornou-se uma forma de expressar sentimentos pessoais, muito diferente da rigidez que era aplicada há um século e meio. 

Características dos ballets românticos

Para conseguir diferenciar o que seria um ballet romântico, vou trazer seus aspectos característicos, saca só:

  • cores da natureza muito presentes, geralmente no 1º ato;
  • 2º ato ou 3º ato seriam um contraste do primeiro, nesse período chamado de “ato branco”;
  • temas ligados ao sobrenatural e ao lado “obscuro” da mente;
  • o confronto real x irreal, que acontece sempre por amor. É diferente dos temas clássicos e épicos, em que o/a herói/heróina morria pelo senso de dever;
  • a ideia é comover o público, contando com cenários inspirados na Idade Média, tudo com um clima bem macabro;
  • busca por algo impossível, retratado nas cenas com dríades, willis, sylphides, peris, enfim, seres mágicos;
  • movimentos contidos e suaves, com destaque para os braços fluídos.

Falado isso, temos mais 2 coisas beeeem importantes para identificar de longe um ballet desse período: 

  • tutu romântico, que é um vestido feito de tule – na época era feito de gaze – que vai até a altura do tornozelo. No “ato branco” eles são, pasmem, da cor branca (risos);
  • bailarinas voando no palco (seja com a ajuda do seu parceiro ou de estruturas), personagens sumindo e voltando, lugares misteriosos. Tudo que a tecnologia de iluminação de palco e estruturas teatrais passaram a permitir na época. E é aqui que surge a sapatilha de ponta, pois existia essa vontade de dar a impressão flutuante, leve e sobrenatural para as bailarinas.

3 espetáculos de ballet romântico

Ok, agora que falamos do Romantismo, é hora de dar um look nos representantes desse período que foi tão importante (tão importante que são encenados até hoje):

1. La Sylphide

Baseado no conto de Charles Nodier “Trilby, ou Le Lutin d’Argail”, La Sylphide estreou em 1832 e se passa na Escócia. O coreógrafo Filippo Taglioni criou esse ballet especialmente para a sua filha, a bailarina Marie Taglioni, que ficou muito famosa após encená-lo. A música é de Jean-Madeleine Schneitzhöeffer e é considerado como o primeiro ballet romântico.

2. Giselle

Estreado em 1841, Giselle é reconhecido como o ápice dos balés românticos. Ocorre em 2 atos e conta com a composição lindíssima de Adolphe Adam. Sua coreografia original é de Jules Perrot e Jean Coralli.  

3. Coppélia

Indo mais para o lado cômico e alegre, Coppélia representa o fim da era romântica no ballet. Nesse aqui, diferente dos outros do gênero, ninguém morre e todo mundo termina feliz. Também não há criaturas sobrenaturais, apenas pessoas comuns. 

Estreou em 1870 e baseia-se no conto “Der Sandmann” (O homem de areia) de E.T.A. Hoffman. A coreografia original é de Arthur Saint-Léon e música de Léo Delibes. É o primeiro ballet a mostrar o tema “boneca que ganha vida”, além de introduzir danças a caráter fora do enredo: Czarda, Mazurka e Polca.

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Ballet imperial russo

Não é por acaso que o ballet russo é um dos mais famosos do mundo. Eles criaram sua própria técnica a partir do que aprenderam com os mestres da Europa Ocidental e se transformaram em referência. 

A música, a poesia e as danças russas nunca se separaram da tradição popular. Os grandes senhores russos do século XVII instalaram teatros em suas propriedades rurais. Assim, conseguiram levar bailarinos, atores, comediantes e cantores para a corte. 

Lembrando que boa parte dessas pessoas eram servos. Ou seja, na Rússia, as artes encontram sua força no povo e nos bailes campestres, o que era normalmente um monopólio da camada mais alta da sociedade em outros países.

Provavelmente, você já ouviu falar do Bolshoi, não é? Inclusive, é no Brasil que existe a única sede da escola Bolshoi fora da Rússia. Esse teatro tão emblemático ganhou destaque no século XIX após servir de palco para a estréia de Dom Quixote. Logo mais, falaremos dessa criação do bailarino e coreógrafo Marius Petipa, um francês que contribuiu muito para a construção da identidade do ballet russo.  

De 1858 até sua morte em 1910, Marius Petipa compôs 54 novos bailados, reconstruiu 17 ballets antigos e fez a dança para 35 óperas. A ideia do estilo russo foi moldada durante gerações de mestres e coreógrafos. E essa tradição pedagógica gerou o chamado “Método Vaganova”, codificado em 1934 por Agrippina Vaganova e que é ensinado até hoje.

Características do ballet imperial russo

Antes de ir para os finalmentes, vou só colocar algumas características dos ballets de Marius Petipa, que são a marca registrada dos ballets russos:

  • ballets longuíssimos, normalmente com 3 ou 4 atos;
  • elemento puramente dançante no espetáculo, ajudando a mostrar as habilidades dos bailarinos através de solos, o que levou a um aperfeiçoamento da técnica;
  • Pas de Deux obrigatório – Pas de Deux é quando dançam o bailarino e a bailarina juntos :). Esses são pas de deux sempre grandiosos e que ocorrem no final do ballet;
  • divertissement: como o nome já diz, é para se divertir. São danças que ocorrem mais para o final, sem relação direta com o enredo, apenas para descontrair.

6 espetáculos do ballet imperial russo

História pra cá, história pra lá, agora vamos de listinha. São ballets muuuito famosos, tenho certeza que você conhece algum! Chega mais: 

1. O Lago dos Cisnes

O Lago dos Cisnes estreou em 1877 com coreografia de Julius Reisinger, a partir de uma composição encomendada pelo próprio Bolshoi ao músico Tchaikovsky. Acontece que essa primeira versão foi um fiasco total. O ballet só ficou famoso após uma segunda versão de 1895 com coreografia de Marius Petipa e Lev Ivanov.

2. A Bela Adormecida

Baseado no famoso conto de Charles Perrault, A Bela Adormecida é um ballet coreografado por Marius Petipa e com música de Tchaikovsky. Estreou em 1890 e, originalmente, tem 3 atos. As variações das fadas do início do ballet são uma fofura.

3. Dom Quixote

Com música de Ludwing Mikus, esse ballet é inspirado no livro Dom Quixote, do escritor Miguel de Cervantes. Estreado em 1869, a coreografia original é de Marius Petipa e Alexander Gorsky. É um ballet muitíssimo animado, com cenas no vilarejo, no bar, muita festa e até um sonho delirante.

4. O Quebra-Nozes

Clássico do Natal, o ballet O Quebra-Nozes cabe bem nas escolas de dança de todo mundo, já que tem diversos personagens e é de fácil adaptação. A coreografia original é de Lev Ivanov e Marius Petipa. Já a música emblemática é de Tchaikovsky. 

5. O Corsário

Baseado no poema de Lord Byron, O Corsário é cheio de aventuras e um certo “orientalismo”. A música é de Adolph Adam e o ballet já teve outras versões anteriores, porém, a conhecida até hoje é a de Marius Petipa. 

6. La Bayadère

La Bayadère é um ballet super ~místico~, muito lindo, um pouco trágico e com gente fumando ópio!! A música é de Ludwig Minkus e a coreografia de ninguém menos que Marius Petipa (ele tá em todas, socorro). Sua estreia ocorreu em 1877 e juro que vale a pena assistir só pelos looks e cenários incríveis.

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Surpreenda-se com os 9 maiores balés de repertório da história

Por fim, compilamos os destaques do balés de repertório, entre os românticos e os ícones do ballet imperial russo, em ordem alfabética:

  1. A Bela Adormecida
  2. Coppélia
  3. Dom Quixote
  4. Giselle
  5. La Bayadère
  6. La Sylphide
  7. O Corsário
  8. O Lago dos Cisnes
  9. O Quebra-Nozes

A lista vai até o final do século XIX, que foi o momento onde a dança se estabeleceu como uma arte com códigos próprios. Mas isso não significa que a produção de dança clássica tenha parado, muito pelo contrário! 

Ela toma uma direção um pouquinho diferente, mas ainda bem interessante! Acho que seria uma boa escrever sobre o que vem depois e como vai essa arte hoje em dia, o que vocês acham? Tipo uma Parte 2!

Após esse período, muitas outras mudanças ocorreram dentro da dança. E uma delas foi a criação da dança moderna, que você pode conferir aqui no site.

E por último, mas não menos importante: praticamente todos os balés de repertório que foram citados aqui são bem fáceis de encontrar no Youtube. Então… aproveitem e descubram mais curiosidades aqui na Artcetera, indo além da Dança para abranger os clássicos da Literatura Russa… que tal?

Bônus: playlist para curtir as músicas dos balés de repertório

Para finalizar o post mantendo o clima mágico dos balés de repertório, temos uma playlist que pode te interessar. Então, é só dar o play em [Ballet Clássico] #61 Artcetera para ouvir as composições que embalaram muitos dos espetáculos que citamos aqui no artigo.

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