Afinal, “como desfazer o que me tornam”? Com essa pergunta poderosa (e até filosófica), começo o artigo questionando a mim mesma. Como assim eu não conhecia a Jota Mombaça, essa artista e ativista que mescla Poesia e Performance nas Artes Visuais?  

Se você também está se perguntando como ainda não a conhecia, venha descobrir tudo sobre uma artista simplesmente incrível. No post de hoje, teremos várias curiosidades, inclusive quando a Jota Mombaça começou como artista visual, escritora e performer.

3 curiosidades sobre a Jota Mombaça

Se a ideia é conhecer a biografia da Jota Mombaça, você definitivamente chegou ao blog certo. E, antes de conferir as curiosidades sobre essa artista multifacetada e pra lá de contemporânea, não deixe de conferir a entrevista dela na Bienal de São Paulo:

1. Quem é a Jota Mombaça?

Nas palavras dela própria, Jota Mombaça é uma “bicha não binária, nascida e criada no nordeste do Brasil”. Também conhecida como Monstra Errátik e MC K-trina, essa artista interdisciplinar mescla Literatura e Artes Cênicas na Arte Visual, em uma linguagem única.

No portal Buala, sua descrição é a seguinte:

“Jota Mombaça (1991) é uma bicha não binária, nascida e criada no Nordeste do Brasil, que escreve, performa e faz estudos acadêmicos em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, estudos kuir (queer), giros descoloniais, interseccionalidade política, justiça anticolonial, redistribuição da violência, ficção visionária e tensões entre ética, estética, arte e política nas produções de conhecimentos do sul-do-sul globalizado”.

Extra: artigos da Jota Mombaça no portal Buala

2. Como foi o começo da Jota Mombaça na Arte Visual?

Jota começou sua prática em Natal (RN) ao entrar na faculdade em 2008, inicialmente relacionando a escrita e a performance. Nesse ponto, vale lembrar que as Artes Visuais se conectam com as outras linguagens, inclusive a Literatura e as Artes Cênicas.

Desde o início, suas criações têm um “componente crítico da realidade”, resgatando o poder narrativo sobre si mesma. Por essas e por outras, ela participou da 34ª Bienal, ao desafiar “a branquitude heterossexual cisgênero e masculina que se impõe como norma universal”. 

“Jota expõe as violentas políticas de morte e de invisibilidade às quais foram submetidos os corpos racializados ao longo da história colonial, que perduram atualmente sob a ficção da democracia racial”.

3. Como é a arte interdisciplinar e engajada de Jota Mombaça?

De acordo com o IMS, Jota Mombaça é uma “artista interdisciplinar cujo trabalho deriva de poesia, teoria crítica e performance”. Nessa linha, ela conecta a Literatura e a Performance das Artes Visuais, ao passo que suas criações impactam a visão dos espectadores.

Já a FLIP destaca o ativismo “no debate sobre a descolonização e o racismo”, cruzando “as dimensões de classe social e de identidade de gênero”. Adicionalmente, o site da Festa Literária Internacional de Paraty mostra que sua obra envolve diáspora negra e afrofuturismo.

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10 obras mais famosas da Jota Mombaça

A seguir, listamos 10 obras icônicas que todos precisamos conhecer e, claro, refletir sobre as mensagens de Jota Mombaça:

1. Feitiço para Ser Invisível | Spell to Become Invisible

Jota Mombaça - Spell

Fonte: Vista da exposição na 34ª Bienal de São Paulo

2. Así Desaparecemos | Assim Desaparecemos

Essa performance aconteceu no Centro de Memória, Paz e Reconciliação, durante o 45º Salón Nacional de Artistas de Bogotá, na Colômbia: 

3. Não Vão nos Matar Agora

Em Não Vão nos Matar Agora, Jota Mombaça faz “da palavra e do corpo ferramentas de crítica, potência e combate”. Neste livro, ela “aponta horizontes que vislumbram a importância de existir e performar em meio às feridas deixadas pelo Colonialismo”. 

4. Soterramento | Burial

Essa performance teve lugar no Transnational Dialogues em Belgrado, na Sérvia, por meio da entidade European Alternatives: 

5. A Plantação Cognitiva

Da colaboração entre o Museu de Arte de São Paulo e o Afterall veio à tona A Plantação Cognitiva. Tal obra faz parte de uma série de estudos ligados à arte e à descolonização, questionando “os legados coloniais na arte, na curadoria e na produção de crítica de arte”.

“Neste ensaio, com referência ao transfeminismo negro radical, Jota Mombaça postula a ideia da ‘plantação cognitiva’ como um meio de descrever os contínuos sistemas de escravização aos quais as vidas negras estão submetidas no presente – e pergunta como seus parâmetros podem ser escapados”.

Jota Mombaça - Obscuridade

Fonte: Afterall | Jota Mombaça | The right of obscurity must be respected

6. Que Pode o Korpo? 

Por sinal, acompanhe as poderosas falas dessa performance de Jota Mombaça e Patrícia Tobias:

“Corpo, território ocupado pelo sex-Império. Objeto a ser moldado pela tecnocultura heterocapitalista. Corpo de macho. Corpo de macho castrado de cu. Corpo-colônia. Corpo marcado. Corpo usurpado pelos sistemas classificatórios. 

Corpo lacrado, embalado a vácuo ou triturado e encapsulado para facilitar o tráfego. Tráfico de corpos. Corpo produto. Corpo de macho emburrecido enlatado. Corpo-colônia. Corpo desencarnado. Corpo submisso ao Eu, à identidade transcendente. 

Corpo de macho dominador submisso. Corpo de macho enclausurado em seus privilégios. Corpo de macho vigiado. Corpo de macho drogadiço e vigiado. Corpo de macho covarde drogadiço e vigiado. Corpo devastado. 

Corpo photoshopado devastado. Corpo photoshopado sarado devastado vazio. Corpo desabitado. Ruína de corpo. Corpo bombardeado em Gaza. Corpo que se atira da ponte. Corpo suicidado. Corpo sem vida. Corpo impensável. 

Corpo, território isolado pelo sex-Império. Corpo prozac. Corpo scotch. Corpo cocaine. Corpo desidratado. Corpo de nóia. Corpo amputado de nóia desidratado. Economia de corpos. Corpo, objeto a ser moldado e descartado pela tecnocultura heterocapitalista. Corpo gramacho. Corpo de lixo. Lumpencorpo. 

Então… Como vergar esse corpo? Como dobrá-lo?”

7. O Que Não Tem Espaço Está em Todo Lugar

O Instituto Moreira Salles convidou artistas para apresentar suas criações na quarentena, durante a pandemia de Covid-19. E o resultado pode ser conferido no site e no Youtube do IMS.

8. Black El Dorado

Parceria com Ikí Yos Piña Narváez no projeto de pesquisa voltado para o delírio de El Dorado. Essa obra se concentra na sede colonial de extração mineral, representando a dimensão geológica do processo de Colonização e as inconsistências dos regimes brancos. 

“Narváez e Mombaça se interessam pelas formas de ler as narrativas coloniais através de suas lacunas”. Segundo o Centro de Arte e Pesquisa Villa Vassilief, a dupla quer investigar “os gestos totalizantes despossessivos do Colonialismo moderno e da Escravização”.

9. As Filhas da Chuva Mais Seca | The Daughters of the Driest Rain

A instalação As Filhas da Chuva Mais Seca vem do desejo de articular uma posição sobre o aquecimento global. Muito além da sobrevivência, ela busca compreender a Terra como um emaranhado, “diante da apropriação colonial e capitalista do planeta como recurso”. 

E mais: o nome da obra partiu de uma música da brasileira Cátia de França, chamada Djaniras. Essa canção ainda inspirou a inscrição “Sabera” na instalação, “apontando esperançosamente para um futuro em que novos modos de produção de conhecimento e de ser decorrem de uma relação mais próxima com a Terra”.

Jota Mombaça - Filhas

Fonte: 22ª Bienal de Sydney

10. OCUPAÇÃO: Arquivo: MUNDO = FERIDA

A exposição Ocupação, em Lisboa, tem uma série de obras dessa artista interdisciplinar. Conforme o site Galerias Municipais, as peças transitam entre invenção e memória, além de atravessar a “densa camada íntima em que migração, recusa e dor colonial se articulam”.

  • Vídeoinstalação: A FERIDA COLONIAL AINDA DÓI, VOL. 6: Vocês nos devem
  • Instalação sonora e sessão de leitura: O MUNDO É MEU TRAUMA
  • Publicação: Não vão nos matar agora
  • Arquivo visual e projeção com trechos do livro NÃOVÃO
  • Arquivo material: MUNDO = FERIDA
  • Palestra: O que significa descolonizar?

5 destaques para ir além da biografia de Jota Mombaça

Para conhecer mais sobre Jota Mombaça, selecionamos entrevistas, livros, frases icônicas e segue o fio:

1. Principais entrevistas da Jota Mombaça

Bônus: série de 5 entrevistas na conferência Ecos do Atlântico Sul | Instituto Goethe

2. Livros da Jota Mombaça

Extra: livro sobre Jota Mombaça e outros artistas da América Latina

3. Frases famosas da Jota Mombaça

  • “Bicha não binária, nascida e criada no nordeste do Brasil.”
  • “Como desfazer o que me tornam?”
  • “Pode um cu mestiço falar?”
  • “Eu não quero ser a única artista trans da Bienal. Eu não quero ser a única artista negra da Bienal. Na raiz do meu trabalho, está uma força que extrapola a minha identidade.”
  • “Corro risco ao andar na rua, não na performance.”
  • “Estou ganhando consciência e consistência nesse exercício de romper com o domínio e a imposição da representação ou a violência da representação.”
  • “Como desmontar o imperativo de ser?”
  • “Nós vamos desnaturalizar a sua natureza, quebrar todas as suas réguas e hackear sua informática da dominação.”
  • “Quais subjetividades estão soterradas em nosso país? Quem são os ‘sujeitos normais’, os ‘sujeitos não-marcados’, confortáveis em seu ser? Por que nunca questionados em sua normalidade?”
  • “Na teoria de Glissant, a opacidade é a condição da relacionalidade. E, de alguma forma, o segredo é a condição do compartilhamento.”
  • “Romper com a ideia de autoria é uma responsabilidade política que eu encarno no meu corpo.”

4. Redes sociais da Jota Mombaça

Artcetera - perfil Instagram

5. Prêmios recebidos pela Jota Mombaça

Em 2020, ela foi indicada ao Prêmio PIPA, bem como participou de grandes eventos (Bienal de São Paulo, FLIP…). Portanto, é só uma questão de tempo para que ela tenha o reconhecimento que merece! Por aqui, estaremos na torcida!  

E aí, gostou de conhecer a sensacional Jota Mombaça? Da minha parte, devo confessar que já me tornei super fã e, em especial, gostaria de tê-la conhecido antes. Aliás, isso me lembra que ainda temos muita gente talentosa para descobrir, como a Castiel Vitorino Brasileiro

Então, continue essa jornada de descobertas na Artcetera, com artistas trans, fotógrafas, escritoras africanas e mais. Por falar nisso, temos um amplo leque de artigos sobre arte e cultura, o que certamente nos ajuda a superar os tempos sombrios em que vivemos. 

Até a próxima! 

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